o vosso roubo custou 13 milhões de salários mínimos

Vi ontem, na edição online do Público, a notícia de que em várias cidades do país tinham sido colados cartazes, nas agências do BPN, que diziam: «O vosso roubo custou 13 milhões de salários mínimos». Segui o link para o blog deste grupo, que se denomina «E o povo, pá?», e fiquei espantada. Estão lá as fotos das agências visitadas, um vídeo e uma espécie de manifesto onde estas pessoas se apresentam, explicam a razão do seu protesto e justificam a escolha do BPN.

Hoje, li a reportagem sobre essa acção na edição impressa do Público e fiquei sem dúvidas: trata-se de gente inteligente e com iniciativa. «Fartos de resmungar sozinhos» decidiram «resmungar para o megafone». Sairam à rua no 12 de Março e agora vêm dizer: «Estamos assim porque nos estão a roubar».

Uma das coisas mais interessantes que esta gente traz à discussão é a tradução de políticas e números em linguagem entendível. Para mim, 6500 milhões de euros é uma ordem de grandeza que me ultrapassa. Consigo perceber que é muito dinheiro pela quantidade de zeros à direita. No entanto, dizer que isso equivale a 13 milhões de salários mínimos ou a 4% do PIB esclarece-me verdadeiramente.

A cereja em cima do bolo é dada, na tal reportagem do Público de hoje, quando é relatada a conversa sobre a escolha da música para o vídeo. «O melhor é colocar qualquer coisa inócua. Se metemos punk, vão dizer que somos anarquistas. Se metemos Seu Jorge, vão perguntar: 'O que é que querem dizer com isto?' Alguém pediu um segundo sentido? Que tal algo islandês? Bjork. It's all so quiet».

A ligação da questão do BPN, ou roubo, como lhe chamam, ao sucedido na Islândia é, de facto, interessante e inteligente. Em Portugal, aceitamos quase em silêncio uma nacionalização ruinosa; na Islândia, a democracia venceu a corrupção e o compadrio. Como dizem no manifesto, «o caso BPN configura o processo de desagregação do Estado democrático, onde se salvam os accionistas e as entidades reguladoras, onde se escolhe salvar os activos nacionalizando os prejuízos à conta dos impostos que pagamos. O caso BPN diz-nos que em Portugal a fraude compensa e, quando esta vence, a democracia perde. Portugal está transformado num país onde há Estado máximo para alguns e Estado mínimo para quase todas as outras pessoas».

Confesso que fiquei bem impressionada com esta gente, mas, mais do que isso, revi-me na sua iniciativa. Tenho pena que queiram manter o anonimato, não porque não aceite as razões que invocam, mas porque tenho a certeza de que ia gostar de os conhecer. E faço coro: «Não nos falem de austeridade, falem-nos de justiça».

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