O terrorista
A cavalo emprestado olham-se os dentes

Aí, defende-se o “apoio directo progressivo e com discriminação positiva”, a ser aplicado “depois de passada a crise económica” o que significa na prática: um adiamento de qualquer legislação neste sentido para altura incerta fazendo suportar o preço dos manuais dos próximos anos novamente pelas famílias, uma oposição frontal ao sistema de empréstimos que a oposição parlamentar conseguiu aprovar no parlamento contra o governo, uma oposição ao sistema de financiamento de todos os alunos do ensino obrigatório para compra de manuais escolares defendido, entre outros, pelo PCP.
Os argumentos centrais deste estudo, retirados da comparação com a realidade espanhola, são dois: as famílias carenciadas seriam as mais prejudicadas pelo sistema de empréstimo (1) e o Estado gastaria muito (2) (a distinção entre argumentos centrais e adicionais parte da valoração a que a entrevista ao autor induz e da própria análise do argumentos).
O argumento 1 funda-se no pressuposto, retirado do caso espanhol, de que serão os mais pobres que perderão ou danificarão mais os livros. Assim, e já que na ideia de empréstimo está subjacente a ideia de uma caução em caso de estrago, aceitando que os mais pobres estragam/perdem mais, caber-lhes-ia pagar mais...
O resto aqui no blogue do Movimento Escola Pública.
Há casas fantásticas, não há?
No dia 9 de julho de 1998, a notária Maria do Carmo Santos deslocou-se ao escritório de Fernando Fantasia, na empresa industrial Sapec, Rua Vítor Cordon, em Lisboa, para registar uma escritura especial. O casal Cavaco Silva (cerimoniosamente identificados com os títulos académicos de "Prof. Dr." e "Dra") entregava a sua casa de férias em Montechoro, Albufeira, e recebia em troca da Constralmada - Sociedade de Construções Lda uma nova moradia no mesmo concelho. Ambas foram avaliadas pelas partes no mesmo valor: 135 mil euros. Este tipo de permutas, entre imóveis do mesmo valor, está isento do pagamento de sisa, o imposto que antecedeu o IMI, e vigorava à época.
Mas a escritura refere, na página 3, que Cavaco Silva recebe um "lote de terreno para construção", omitindo que a vivenda Gaivota Azul, no lote 18 da Urbanização da Coelha, já se encontrava em construção há cerca de nove meses. Segundo o "livro de obras" que faz parte do registo da Câmara Municipal de Albufeira, as obras iniciaram-se em 10 de Outubro do ano anterior à escritura, em 1997. Tal como confirma Fernando Fantasia, presente na escritura, e dono da Opi 92, que detinha 33% do capital da Constralmada, que afirmou, na quinta-feira, 20, à VISÃO que o negócio escriturado incluía a vivenda.
Bem-aventurados os que não passam à segunda volta...
Há duas semanas, Fernando Nobre disse a Judite de Sousa que no dia 24 tem lugar marcado num avião com destino à Papua Nova Guiné. O que o terá feito mudar de ideias?
Uma casa de fantasia
A casa de férias de Cavaco Silva foi adquirida a uma empresa subsidiária da Opi 92, de Fernando Fantasia. O Presidente da República continua sem dizer onde está a escritura pública da transação.
O que se sabe é que a permuta foi feita com uma empresa de construção, a Constralmada. E que essa empresa era uma sociedade por quotas fundada por Fernando Fantasia e detida em 33,3% pela sua empresa Opi 92, SA. Era, porque foi dissolvida em Janeiro de 2004.
Fernando Fantasia é um dos moradores no restrito aldeamento da Coelha. Viria a ser, também, um dos rostos de algumas das mais complexas operações durante a gestão de Oliveira e Costa no BPN/SLN. Mas isto aconteceu alguns anos após o negócio com Cavaco Silva. Muito embora não se consiga situar, precisamente, quando é que a Opi deixou de ser exclusivamente detida por Fernando Fantasia para passar a ser mais uma das "participadas" do grupo do BPN.
A VISÃO enviou várias perguntas para Cavaco Silva, que receberam, às 16h00 desta terça-feira, 18, uma resposta de fonte oficial da direção da sua campanha para a re-eleição na Presidência da República: "O Professor Cavaco Silva já disse o que tinha a dizer sobre o assunto." E da Presidência não nos chegou qualquer resposta.
Felicitações para Ben Ali?

Cavaco e “a mais elevada consideração” para com Ben Ali
A “razão de Estado” hipócrita considera muitas vezes que ditador só é ditador depois de ter caído. Hoje, mesmo essa recatada hipocrisia, se curvará perante a evidência: Ben Ali é um ditador fugido do seu povo que o derrubou corajosamente. A ver vamos o que se segue.
Cavaco Silva é o primeiro-gestor dos silêncios em Portugal. E, nas horas de aperto, até um bolo-rei servia como último recurso para não responder a perguntas incómodas. Mas estes silêncios acabam onde se impõe uma estranha (e certamente muito responsável) noção de “razão de Estado”. Em Outubro de 2009, sentiu a necessidade de felicitar o ditador Ben Ali pela sua “expressiva reeleição”. Necessidade de Estado e mensagem da praxe, dirão…
Mas não teria sido preferível encontrar um bolo-rei que permitisse o silêncio? Ou será que endereçar a Ben Ali a “mais elevada consideração e estima pessoal” não era engolir um sapo autoritário em nome de uma discutível "razão de Estado"?
Mas o que é que quer dizer com isso?
Escolhas: Golos e Malhões

"Eu era um mísero professor, minha senhora..."
O economista rigoroso Cavaco Silva diz que não sabe como ganhou os 140% de mais-valias no jackpot da SLN, mas sabe que o lucro foi depois aplicado em "acções estrangeiras com uns nomes esquisitos"...
E quando é que deixam o Alberto João ir ao youtube?
É nisto que dá ir aos saldos...
"O favor que Cavaco teve de Oliveira e Costa não consistiu no preço de venda mas antes no preço de compra." diz o Ricardo Coelho no blogue de campanha Alegro Pianissimo. O Expresso confirma que na SLN o único que comprava acções a 1 euro era Oliveira e Costa. Os outros accionistas tinham de pagar entre 1,8 e 2,2 euros por acção.
O favor que Cavaco aceitou de Oliveira e Costa - que deu uma mais-valia de 357 mil euros à sua família, rendimentos na altura isentos de imposto - é uma bomba política, por mais que o gangue da SLN na Comissão de Honra de Cavaco venha agora distrair as atenções e dizer que houve accionistas a vender mais caro, esquecendo que também as compraram muito mais caro que o candidato presidencial do PSD.
A humilhação de Cavaco pela descoberta do favor que tentou esconder começou hoje mesmo pela mão de quem preside à Comissão de Honra da candidatura. Ramalho Eanes veio afirmar nunca ter entrado em esquemas semelhantes, apesar de solicitado por vários bancos. "Tenho dito sistematicamente que não", afirmou Eanes, e não foi preciso dizer mais nada para mostrar que é muito diferente do candidato que era suposto estar a honrar com a sua presença naquela acção de campanha em Setúbal...
Políticos natos
O bebé do ano de 2011 nasceu frustrado. E não é pela crise que fustiga a geração dos seus pais. Essa, esperanças de recém-nascido, já poderá ter passado há muito quando chegar à maioridade. O problema é que, inflado à nascença de ambição política, terá ouvido dizer que ainda está por nascer quem possa fazer melhor pelo défice do que Sócrates e também que para ser mais honesto do que Cavaco é preciso nascer duas vezes. Assim, face aos colossos da política actual, sentiu toda uma carreira política acabada ainda antes de ter começado: a competência técnica esgotou por várias gerações e a seriedade está num patamar pura e simplesmente impossível de superar. Nascido apenas uma vez e em Portugal, não há volta a dar-lhe. A quota dos políticos excepcionais está preenchida.
Os excepcionais gémeos dizigóticos do sistema
A veemência colocada na questão do nascimento, que marcaria uma excepcionalidade auto-atribuída, leva-nos a pensar que há um problema nato de modéstia na classe dirigente da política nacional e que isso a une tanto como as suas propostas políticas gémeas de gestão da crise.
Cavaco construiu o seu boneco valorizando a honestidade que pretendia exibir na cara fechada e a seriedade que mostrava com um certo tom de voz. Resvalou-lhe a figura muitas vezes para o autoritarismo. Gestor de silêncios e engenheiro de tabus, foi o tecnocrata do betão em tempo de vacas gordas e o inventor do discurso do oásis quando a coisa deu para o torto.
Sócrates, por sua vez, construiu o seu boneco como um corredor de fundo: exibia um fôlego de quem acreditava que poderia sempre continuar a correr apesar de todos os escândalos. Com um sorriso na lábia. A acompanhar trouxe um arraial yuppie de “novas tecnologias” que modernizariam o país em inglês técnico. Mal a sua competência ímpar foi injustiçada pela crise internacional e já na mensagem de Natal trazia pronta a sua versão de um oásis a contracorrente da austeridade.
Os excepcionais nunca se enganam e quando há problemas têm refúgio certo num país das maravilhas. Nele, a dureza das crises é recalcada. Até porque quem as paga é certamente personagem menor.
Soluções excepcionais
É porque os homens excepcionais são capazes de soluções excepcionais que se deve confiar neles. Daí que não devamos cair na armadilha de questionar o que se passou no famoso investimento na SLN por parte de Cavaco Silva através de qualquer desconfiança na sua integridade (até porque supõe-se que o senhor dos tabus saberá desmontar a armadilha a seu tempo). Se abordarmos a questão confiando na excepcionalidade de Cavaco, deveremos procurar saber os meandros do negócio para aí descobrir se o segredo de rapidamente obter dividendos na ordem dos 140% se pode multiplicar, nacionalizar e ser democratizado. Porque, continuando o caminho trilhado pelos PECs, ou um homem excepcional com um investimento excepcional resolve problemas como o buraco financeiro do BPN e o dos submarinos, ou ainda estarão para nascer aqueles/as que vão conseguir pagar a crise. Ou então será preciso que cada um/a dos/as trabalhadores/as portugueses/as nasça duas vezes para nos serem aplicadas medidas de austeridade a dobrar.
A excepcionalidade é sempre uma má anedota. Não é nela que se encontra o segredo da política. Não é ela que resolve crises.
Publicado também aqui.