Eis a frase mais acertada da campanha eleitoral
Dita pelo José Gusmão, deputado bloquista e candidato por Santarém: Para o PS trazer alguma coisa de esquerda à campanha, foi preciso chamar o Fábio Coentrão...
Política de coentrada
O facto verdadeiramente interessante aconteceu quando Coentrão explicou a sua visão particular da política: 1- não se interessa nada nem percebe nada de política mas 2- sempre foi e será do PS. Alguns dos meus amigos mais afeitos à análise lógica das proposições sublinhariam aqui a incoerência entre duas afirmações separadas por segundos. Pela minha parte, encontro uma sinceridade e uma coerência profunda entre as duas afirmações. Para muitos será preciso um esforço desinteressado de desconhecimento da política e de apagamento da memória para votar no PS.
Vamos todos ajudar José Rodrigues dos Santos!
Texto da petição:
Uma comunicação social livre, exigente, isenta e plural é uma condição fundamental da democracia. À relevância do papel social de produção e difusão de notícias deve corresponder a mesma dose de responsabilidade e exigência no tratamento noticioso da realidade que é, necessariamente, construída pela própria noticia. Especialmente num período em que nos aproximamos de eleições, a responsabilidade sobre os temas tratados não deve existir apenas no plano da justa distribuição de tempo pelas várias ideias e opções politicas que se apresentam perante o sufrágio dos cidadãos: a semântica reveste-se igualmente de uma importância crucial no tratamento noticioso.
Neste sentido, torna-se manifestamente inaceitável que a generalidade dos órgãos de comunicação social continue a reproduzir, displicentemente, a ideia de que o empréstimo da "troika" FMI-BCE-UE constitui uma "ajuda externa", optando assim, implicitamente, pela aceitação acrítica desta noção.
Ora, em primeiro lugar, um empréstimo com uma taxa de juro tão elevada dificilmente pode ser considerado uma ajuda. E, em segundo lugar, este empréstimo, encontra-se associado a um acordo, que obriga o Estado Português a cumprir - a troco do empréstimo - um conjunto de contrapartidas que se materializam em medidas de austeridade fiscais, sociais e económicas. Por último, assumir acriticamente que se trata de uma ajuda significa ignorar a profunda controvérsia, contestação e discussão quanto à pertinência e adequação destas medidas, cujos impactos sociais e económicos nefastos são amplamente reconhecidos.
Ao atribuir-se ao memorando da "troika" o epíteto de "ajuda externa" está-se portanto a construir, ou a veicular com manifesta parcialidade, uma narrativa política que favorece quem se comprometeu com este acordo, em detrimento de outras narrativas, igualmente existentes, nomeadamente da parte de quem o contesta. Quando a ideologia se infiltra desta forma inaceitável, numa sociedade plural, no tratamento noticioso, é não só o jornalismo que sai diminuído, mas também a própria democracia.
Sabemos, pelos programas dos partidos que concorrem a eleições, que existem diferentes abordagens, interpretações e propostas de solução no que concerne ao problema da dívida da República Portuguesa. São estas perspectivas que estarão sob escrutínio dos eleitores no dia 5 de Junho. Ao assumir acriticamente a ideia de "ajuda externa", a comunicação social interfere no processo plural de debate de ideias, contribuindo para que a ideologia se sobreponha à democracia. É por isso inaceitável que o acordo da "troika" receba o rótulo de "ajuda", tornando-se por isso urgente que os diferentes órgãos de comunicação social se lhe refiram em termos mais rigorosos, isentos e correctos de um ponto de vista da linguagem económica, recorrendo por exemplo às expressões de "crédito", "empréstimo" ou "intervenção externa".
Olha, esqueceu-se de meter o Zapatero!
A confusa oportunidade da crise
Proposição 1: a coitada da social-democracia andou desorientada antes, durante e depois da crise mas a disponibilidade da esquerda radical para se coligar curaria essa desorientação.
A tese das migalhas do protesto é afinal a tese da entrega do bolo à direita. Assim quem se opôs à concretização da tal “agenda liberal” torna-se um dos principais culpados por ela ir continuar a ser aplicada. A isto se opõe a possibilidade de ter entrado no “barco do poder” o que é equivalente a (para utilizar palavras do próprio autor) “ser apenas o gestor brando de uma austeridade criminosa” ou a acreditar que o PS mudaria tudo por o BE ou PCP entrarem em coligação...
Daniel Oliveira coloca ainda a possível derrota política do centro esquerda como uma “oportunidade”. Uma oportunidade para este espaço se definir e escolher de que lado está e uma oportunidade para as forças à sua esquerda serem “um elemento eficaz de pressão para conseguir reagrupar forças e para obrigar o renitente centro-esquerda a mudar de rumo”.
Proposição 2: O centro-esquerda (que é a social democracia desorientada) poderá mudar de bases e deixar de ser social-liberal e o papel da esquerda à sua esquerda é obrigar o renitente a mudar de rumo.
Temos então a tese da pressão eficaz que se pretende opor às migalhas de protesto. Uma tese que esquece que o compromisso de futuro e sem renitências do PS é com a austeridade e com o FMI. O PS é a parte da troika e o seu social-liberalismo sem desorientações é uma escolha já feita. O sonho de mudança do PS condicionaria a esquerda a uma ineficaz pressão eficaz face ao PS, a uma política que desiste porque reduz qualquer esquerda apenas a um lóbi para convencer o escorpião a mudar de natureza.
A bússola eleitoral atlântica está avariada
Como sou picuinhas dou comigo, numa altura tão importante da vida política do país, a olhar para pormenores ínfimos de coisas minúsculas. Dizem que o diabo mora nos pormenores mas não acredito que seja alguma influência diabólica a explicação de um estranho efeito magnético do norte que fez a bússola eleitoral atlântica avariar. Isto para dizer que o Partido Democrático do Atlântico perdeu o norte ao ganhar o norte e tornou-se um partido de discurso cindido. E não só geograficamente. É que agora, com a “coligação” com o “Partido do Norte”, o micro-partido açoriano passa a defender a mensagem de que o norte é que produz riqueza e que, qual solidariedade nacional qual quê, a riqueza devia ficar era a norte o que implica que a autonomia açoriana não deve contar em nada com a solidariedade nacional porque pelo menos os seus amigos de Peniche do Norte não estarão dispostos a abrir mão da sua riqueza. Até ao momento, desconhece-se a posição quanto a tudo isto do PDA-Lisboa.
Mas o pormenor verdadeiramente extravagante é que parte do discurso é servida com uns quatro ou cinco livros com o nome de Salazar em letras garrafais em pano de fundo. Não se percebe se o estudioso de Salazar o decidiu fazer por pirraça a um velho ditador que acreditava numa unidade nacional que ia do Minho até Timor (diz-se que passando também por Lisboa e Açores) ou se foi apenas um descuido. Mas espera-se que tal presença espectral não desarranje ainda mais a bússola atlântica e ameace a designação “democrática” do PDA.
O pequeno mundo dos plutocratas
Vinte homens apenas ocupam mil lugares de administração nas principais empresas portuguesas. Segundo o Económico, que cita o relatório anual sobre o Governo das Sociedades Cotadas em Portugal, “por cada um destes lugares recebiam [em 2009], em média, 297 mil euros por ano, ou, no caso de serem administradores executivos, 513 mil euros”. Como diria Guterres, é só fazer as contas.
E, claro, nestas contas não se desconta a factura da crise que os/as outros/as pagarão. Antes pelo contrário, os super-administradores ganharão com ela e com a diminuição do custo do trabalho. Tal como estão certos que não podem perder as próximas eleições porque julgam que a sua plutocracia não vai a votos.
Não sentem que se têm de justificar. Se tivessem, tão omnipotentes como omnipresentes, iriam gabar o seu empreendedorismo construído à sombra dos benefícios oferecidos pelo Estado, explicar-nos-iam o seu papel benemérito de criadores de emprego, provariam, a quem sentisse ainda que tivesse de ser provada, a competência magnífica de quem faz o país andar para a frente. Ou diriam simplesmente que quem tem mais unhas é que troika viola. Respondamos que sabemos que as unhas deles estão cravadas fundo na nossa vida. Que nos recusamos a ser meros instrumentos. Que a banda sonora das nossas vidas há-de ser outra e decidida por nós.
Start spreading the news…
São os aumentos de impostos, os juros impagáveis da troika, a recessão que leva a economia ainda mais ao fundo, o desemprego a disparar… É verdade que também se encontram notícias mais agradáveis na imprensa económica, e curiosamente todas elas dizem respeito ao sistema financeiro.
Olhe-se para o pedido do BES para usar a garantia do Estado para a emissão de dívida do banco. São mil e duzentos e cinquenta milhões de euros que o Estado vai ter de assumir se o BES não conseguir pagar no fim do prazo. E como? Entrando no capital do banco, que reunirá a sua Assembleia Geral quatro dias após as eleições legislativas para alterar os Estatutos nesse sentido.
Apesar de somarem lucros todos os anos, os bancos sempre preferiram distribuir dividendos aos accionistas do que recapitalizarem-se. Mesmo neste ano de crise, com apelos do governador do Banco de Portugal para a não distribuição de dividendos, houve quem não se importasse - o BES, que pagou 147 milhões aos seus donos. Agora sabemos porque é que não se importaram.
Mas a semana de facilidades para a banca ainda vai a meio. Veja-se o caso do spread do crédito à habitação, que triplicou nos últimos três anos. Os bancos acabam de conseguir luz verde para aumentar as taxas dos spreads unilateralmente, protegidos pelo novíssimo "Código de conduta sobre a utilização de cláusulas que permitam a alteração unilateral da taxa de juro ou de outros encargos", anunciado na terça-feira pelo Banco de Portugal.
Como alerta a DECO, este "código de conduta" do BdP protege os bancos e tem consequências ainda mais graves para quem contraiu um empréstimo para comprar casa e vê a prestação aumentar. É que segundo o próprio BdP, um em cada cinco contratos celebrados desde Outubro passado contém esta cláusula abusiva.
Mesmo sem tradução oficial para português (está aqui a não-oficial), o acordo com a troika já está a ser aplicado e não admira que os banqueiros que chamaram o FMI falem do empréstimo como uma ajuda. É mesmo uma grande ajuda para eles, que é cobrada a quem trabalha e com juros generosos. Para evitar a sangria deste país refém dos que mais têm lucrado com a crise, é a democracia que tem de se levantar no dia 5 de Junho.
(publicado no esquerda.net)
Manifiesto Plural

Los reunidos en la Puerta del Sol, conscientes de que esto es una acción en marcha y de resistencia, han acordado manifestar lo siguiente:
1. Después de muchos años de apatía, un grupo de ciudadanos de diferentes edades y extracciones sociales (estudiantes, profesores, bibliotecarios, parados, trabajadores...), CABREADOS con su falta de representación y las traiciones que se llevan a cabo en nombre de la democracia, se han reunido en la puerta del Sol en torno a la idea de Democracia Real.
2. La Democracia Real se opone al descrédito paulatino de las instituciones que dicen representar a los ciudadanos, convertidas en meros agentes de administración y gestión, al servicio de las fuerzas del poder financiero internacional.
3. La democracia que se promueve desde los corruptos aparatos burocráticos es simplemente un conjunto de prácticas electorales inocuas, donde los ciudadanos tienen una participación nula.
4. El descrédito de la política ha traído consigo un secuestro de las palabras por parte de quienes detentan el poder. Debemos recuperar las palabras, resignificarlas para que no se manipule con el lenguaje y se deje a la ciudadanía indefensa e incapaz de una acción cohesionada.
5. Los ejemplos de manipulación y secuestro del lenguaje son numerosos y constituyen una herramienta de control y desinformación.
6. Democracia Real significa poner nombres propios a la infamia que vivimos: Fondo Monetario Internacional, Banco Central Europeo, OTAN, Unión Europea, las agencias calificadoras de riesgo como Moody’s y Standard and Poor’s, Partido Popular, PSOE, pero hay muchos más y nuestra obligación es nombrarlos.
7. Es preciso construir un discurso político capaz de crear un nuevo tejido social, sistemáticamente vulnerado por años de mentiras y corrupción. Los ciudadanos hemos perdido el respeto a los partidos políticos mayoritarios, pero ello no equivale a perder nuestro sentido crítico. Antes bien, no tememos a la POLÍTICA. Tomar la palabra es POLÍTICA. Buscar alternativas de participación ciudadana es POLÍTICA.
8. Una de nuestras premisas principales es una Reforma de la Ley electoral que devuelva a la Democracia su verdadero sentido: un gobierno de los ciudadanos. Una democracia participativa. Y a su vez, exigimos un código deontológico para los políticos que asegure las buenas prácticas.
9. Hacemos hincapié en que los ciudadanos aquí reunidos conformamos un movimiento TRANSGENERACIONAL porque pertenecemos a diversas generaciones condenadas a una pérdida intolerable de participación en las decisiones políticas que conforman su vida diaria y su futuro.
10. No llamamos a la abstención, exigimos que nuestro voto tenga una influencia real en nuestra vida.
11. Hoy no estamos aquí para reclamar sencillamente el acceso a hipotecas o para protestar por las insuficiencias del mercado laboral. ESTO ES UN ACONTECIMIENTO. Y como tal, un suceso capaz de dotar de nuevos sentidos a nuestras acciones y discursos. Esto nace de la RABIA. Pero nuestra RABIA es imaginación, fuerza, poder ciudadano.
A crise da política e a política da crise
Este artigo corresponde a uma versão, que foi sendo alterada, de uma intervenção que não pude fazer na VII Convenção do Bloco de Esquerda. Está publicado também no Esquerda.net e constitui o último artigo de uma colaboração quinzenal regular com este portal, fechando simbolicamente um ciclo de dois anos iniciado com outro artigo que também era uma intervenção não feita na convenção anterior.
O debate das moções na Convenção do Bloco de Esquerda começou com a afirmação correcta de que uma Convenção serve para olhar para trás e para a frente. Este é o tempo dos balanços que nos possibilitam pensar o futuro. Acrescentaria, contudo, outra dimensão: uma Convenção olha para dentro e para fora. Olha para dentro porque é a forma de conhecer as forças e fraquezas que permitem preparar melhor as lutas futuras. Olha para fora porque a vida está lá fora. E se só olhar para dentro é vazio olhar apenas para fora é cego.
Nesta perspectiva, uma convenção não pode ser apenas um ritual de auto-motivação. Assim, teríamos apenas uma “convençam-se” em vez de uma convenção. E também não pode também olhar só para as câmaras de televisão na obsessão de repetir slogans sem discutir pensamentos e práticas. Uma convenção assim seria aquilo a que os especialistas chamam uma “Convenção-Sócrates”, um mero produto de marketing. O contrário do comício alargado, seria uma “Convenção-umbigo” que ignorasse quem, olhos postos no Bloco, procurasse aí respostas políticas à crise.
Não deveríamos ainda limitar a narrativa desta convenção a uma disputa sobre um arco governativo imaginário ou sobre uma sagrada “arca da aliança” da esquerda a ser descoberta. Sobretudo quando a urgência de hoje é construir uma frente anti-austeridade e anti-liberalismo o mais forte possível. E sobre isto há, creio, acordo nesta convenção: estamos todos juntos contra o austeritarismo.
Agora, na próxima campanha eleitoral e muito para além dela, o desafio é olhar para fora e responder à política da crise e, ao mesmo tempo, olhar para dentro e para fora e responder à crise da política. Essa política da crise que é a história do sistema político português que se repete primeiro como a farsa permanente do centrão e só depois como a tragédia social da crise. Essa política da crise que é hoje a ditadura fmiista. E não é um eufemismo dizer que o fmiismo seja uma ditadura social que pretende impor autoritariamente uma brutal redistribuição de rendimentos entre trabalho e capital.
A par da política da crise, vivemos hoje uma crise da política.
No mundo da política em crise, a política é uma carreira e não um compromisso de vida.
No mundo da política em crise, a política é um programa de televisão, um reality show com resultados viciados que acontece a horas certas e tem um lugar próprio,
No mundo da política em crise, a política é um palco, que é por si só um lugar de poder, e esse palco é pertença de alguns políticos que guardam para os outros o papel de espectadores, vincando uma divisão social do trabalho político.
A política em crise é a “política realmente existente”. E contra ela é a força da militância do Bloco de Esquerda que faz falta. Será inevitável que este mundo da política em crise se organize assim? Decerto que a política realmente existente é uma realidade rígida contra a qual embate o voluntarismo. Mas o mundo da política em crise é uma realidade construída. E, como todas as realidades construídas, não é inevitável. Tal como temos repetido que a política da crise não é inevitável, deveríamos também repetir com a mesma veemência que este mundo político não é inevitável. A forma da política implica, pois, escolhas.
Olhando para dentro, responder à crise da política é reinventar a militância significativa, pensar as possibilidades de mobilização transformadora. E, ao mesmo tempo, olhando para fora, responder às limitações das formas tradicionais de fazer política oficial porque é nelas que se reforça o perigo do populismo anti-político.
Assim, penso que, para construir esta militância significativa teremos de responder a várias questões:
- como ser eficaz comunicativamente sem cair na lógica mediática;
- como fazer crescer a participação militante e escapar à redução do militante a um voluntário tarefista;
- como reforçar uma democracia de profundidade que escape à facilidade organizativa do centralismo;
- como escapar às forças da institucionalização e aos enquistamentos burocráticos que significam, em qualquer organização e em qualquer tempo, o perigo de absorção da alternativa desejada pela “política realmente existente”;
- que encontro entre esquerdas políticas e sociais, as militâncias políticas e sociais.
Dirão que responder a isso é limitar-se a olhar para dentro. Sim, é olhar para dentro porque olhar para dentro permite pensar a nossa relação com o “fora”. E a questão é que, olhos postos por muitas e muitos no Bloco, as respostas que dermos dentro respondem também a quem de fora olha para o Bloco como uma esperança de inconformismo face à política realmente existente. Derrotar a “política da crise” é tão urgente como derrotar a “crise da política”. E só um partido anti-capitalista de massas o pode fazer.
Eles somos nós
Eles somos nós. Não votarei em nenhum deles, não concordo com nenhum deles. Mas são silenciados e é só por isso que somos nós. Eles somos nós, os que não somos indiferentes ao silenciamento de opiniões diferentes no debate económico e político. E quando estão silenciados devemos fazer ouvir a nossa voz contra o silêncio. Porque não faz sentido protestar quando a sua voz não é ouvida mas calar-se quando é a dos outros a ser excluída.
Já devem ter percebido que estou a falar do protesto de dois pequenos partidos de esquerda por terem sido excluídos de um debate político submetido às regras estabelecidas pelas televisões contra a democracia. A esquerda deve fazer ouvir a sua voz pelo direito ao debate.
Comentadores políticos com ordem
1- A independência enquanto estilo
A independência deve ser o estilo predominante do Comentador Político. Enquanto estilo, deve ser cultivada, independentemente das preferências partidárias expressas ou implícitas, sob a forma de um ataque qualquer aos dirigentes actuais dos partidos, aos partidos no seu todo e a forças do bloqueio como sindicatos. Enquanto estilo, a independência não implica qualquer declaração de interesses nem obriga a qualquer crítica profunda aos poderes instituídos. Enquanto estilo, recorde-se, a independência produz um efeito positivo de empatia face ao público ao mesmo tempo que induz ao respeito próprio de quem tem a coragem de dizer a verdade.
2- O estribilho enquanto conteúdo
O estribilho simples deve ser o conteúdo predominante do Comentador Político. Enquanto conteúdo, o estribilho deve ser repetido com diversidade de formas. Enquanto conteúdo, o estribilho deve ser claro, apesar de ser mais eficaz se envolvido por comentários de carácter aparentemente técnico e outros argumentos de autoridade derivados da posição do Comentador. Enquanto conteúdo, o estribilho procura produzir senso comum mas, sobretudo, reforçar e orientar o senso comum já estabelecido. Neste sentido, por exemplo, o direccionar do ressentimento produz estribilhos eficazes, como se tem visto no caso dos políticos enquanto grupo indistinto, dos funcionários públicos, ou de pessoas que vivam com prestações sociais.
3- O Comentário enquanto Arte
Daí que a Arte do Comentador Político esteja na capacidade de repetir o estribilho de formas inventivas, assim como na capacidade de fazer acreditar ao mesmo tempo que se está contra ventos e marés de interesses e do lado do campo maioritário, do bom senso, do país etc.
A Arte do Comentador Político depende da capacidade de se posicionar na difícil equação entre a popularidade, medida pela ciência de ratings das audiências, e a adequação à política editorial do órgão de comunicação. Isto, refira-se, sem prejuízo de, em alguns debates e outras ocasiões, existir a necessidade de introduzir a função “pluralidade” que levará à apresentação ocasional de pontos de vista diferentes.
O trunfo é cadáver

Desaparecido Bin Laden, anula-se para a guerra no Iraque e no Paquistão o princípio de relação nominal com que os E.U.A. desenham a sua política imperialista: desapareceu o rosto do terror. Degolada, a hidra multicéfala em que se transformou o "terrorismo" internacional poderá reagir de muitas formas, mostrando novos rostos, mais braços, novas formas de acção. Da mesma forma, os E.U.A. terão que desdobrar-se estrategicamente para conter essa hidra em fúria, com mais meios, mais guerras, mais mártires de um e de outro lado das barricadas.
Simbolicamente, o desaparecimento de Osama Bin Laden (mirificamente, às mãos dos E.U.A., como havia sido o seu aparecimento) representa as contas não ajustadas do povo americano que viu desaparecer familiares desde o 11 de Setembro, primeiro nos atentados, depois na guerra, mas igualmente de milhões de cidadãos e cidadãs do Médio Oriente que foram sacrificados em nome desta guerra contra um homem só - um homem que nunca ninguém viu, um cadáver à deriva no mar.
Como digerir essas perdas sem um desenlace, sem uma resolução que não seja "olho por olho, dente por dente"? Como pode a morte ser a bitola pela qual se rege a justiça?
Assim, politicamente, a morte de Bin Laden poderá vir a ser também o fim de Barack Obama se o povo americano e a comunidade internacional se lembrarem de fazer as perguntas certas: Como morreu? Como foi identificado? Como foi conduzida a missão? Porque não foi capturado com vida e julgado por crimes de guerra?
No seu anúncio, talvez nem Obama tenha compreendido de que forma privou o mundo de um momento catártico de pura justiça, de que forma se transformou ele próprio no estereótipo do cowboy branco, racista, impiedoso e vingativo que faz justiça pelas próprias mãos.