Onde há fumo, há fogo
É precisamente isso que está a acontecer com as insistentes notícias acerca de comportamentos não democráticos e/ou não éticos do primeiro ministro. O tipo de reacções que a notícia da chamada do PM à Comissão de Ética da AR é esclarecedor. As notícias das alegadas pressões sobre a comunicação social não são isoladas, são apenas mais um episódio de uma longa novela (a licenciatura, os projectos de habitação assinados por Sócrates, o assessor na Madeira, o Freeport...) que parece não ter fim. Ora, se depois da primeira notícia ainda se mantinha algum saudável clima de inocente-até-prova-em-contrário, a insistência em notícias do género tem o grave efeito de fazer com que cada vez mais pessoas, confiantes num "onde há fumo, há fogo" se apressem em julgamentos caseiros. O clima de suspeita é, claramente, insuportável, mas ele deve-se, acima de tudo, aos que suspeitam, não aos suspeitos. Exercer a cidadania num constante clima de desconfiança em relação a decisores políticos e instituições deita por terra os próprios fundamentos da democracia e abrem caminho a propostas de organização política mais musculadas.
E o pior nisto tudo é que o governo, que tem tomado decisões que são politicamente criticáveis, é cada vez mais criticado pela forma e não pelo conteúdo. É mais uma acha para a fogueira que arde à custa das ideologias políticas e que deixa nada mais do que as características pessoais de candidatos como factor de decisão do voto.
E um último sobre a publicidade
Da anti-democracia

Ainda a propósito da publicidade
Mais do que defensores da liberdade, estes cruzados defendem, antes, uma esterilização purificadora e "emancipatória" da vida social, empenhados que estão em desmascarar, tudo e todos. Pior, acreditam que este tudo e todos é composto por indivíduos que ou são ingénuos ou fazem parte da trama maquiavélica. O distúrbio já está mais do que documentado na psicologia mas não é essa a perspectiva que aqui me interessa.
A crítica (discutida aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo) aos anúncios publicitários da Super Bock e da Vodafone constituem material para um bom estudo de caso a este respeito. Na publicidade não vale tudo, é certo, mas daí a atribuir à publicidade uma capacidade estruturante na nossa sociedade, vai um bom bocado, tal como vai um bocado de não gostar de um determinado anúncio a acusá-lo de ser opressor de um determinado grupo social. Todos os dias, através dos meios de comunicação (não só através da publicidade que contêm mas também através dos próprios artigos) somos aliciados a consumir, somos confrontados com imagens que constituem referentes simbólicos aos quais queremos aderir através do consumo, esteja ele relacionado com a imagem do corpo, hábitos alimentares, práticas culturais, ou outra coisa qualquer. Ora, partindo do princípio que a publicidade não é, em si, maléfica (mas temo não ser acompanhado por toda a gente quando o faço), a grande questão põe-se ao nível da capacidade de interpretação destas mensagens de sedução. É precisamente aqui se estabelecem todas as diferenças. Mais do que "limpar" a esfera pública de todas as más influências da publicidade - que, como é óbvio, serve os interesses de capitalistas gordos que fumam charutos cubanos -, trata-se de garantir a liberdade de publicação destas mensagens num contexto social reflexivo e crítico que só pode ser alcançado através de boas políticas de educação. Mas isso é outra discussão e outros quinhentos. Creio, aliás, que os consumidores estão cada vez mais informados e cada vez mais capazes de ponderar as suas escolhas.
Agora, que não é possível ser-se pelo povo e, ao mesmo tempo, desconfiar de toda gente, isso parece-me evidente.
Topete
Publicidade - regras do jogo
A publicidade joga habilmente com o relacionamento daquilo que excita com o produto publicitado e isso, parece-me, cabe nas regras do jogo. Apesar de toda a gente saber que os anúncios não pretendem ser um retrato fiel da realidade, é certo que têm (é esse mesmo o seu propósito) um poder de persuasão e sedução difícil de ignorar. Ainda assim, o sexo excita como excitam o dinheiro, o romance, a liberdade ou o luxo. Portanto, utilizá-los como forma de apelar ao consumo parece-me perfeitamente justificável. Menos justificável é a utilização de papéis de género estereotipados, reproduzindo-os da mesma forma que seria inconcebível um anúncio que utilizasse representações de superioridade étnica de um qualquer grupo.
Mas repito: a linha é ténue.
Judith Butler: My rabbi told me, 'you are not well behaved.

Philosopher, professor and author Judith Butler arrived in Israel this month, en route to the West Bank, where she was to give a seminar at Bir Zeit University, visit the theater in Jenin, and meet privately with friends and students. A leading light in her field, Butler chose not to visit any academic institutions in Israel itself. In the conversation below, conducted in New York several months ago, Butler talks about gender, the dehumanization of Gazans, and how Jewish values drove her to criticize the actions of the State of Israel.
Ler a entrevista aqui
Números! Gráficos! Tabelas!
Nobre
A declaração da entrada de Nobre na corrida parecia vazia de sentido mas é esse precisamente o problema: o vazio nunca é neutro, o neutro nunca é inócuo. Na história recente das sociedades ocidentais, as linhas divisórias entre políticos, partidos políticos e ideologias esbateu-se consideravelmente o que gerou, inevitavelmente, um discurso de descrença que, embalado por uma situação económica (e, portanto, social) frágil, leva tudo a eito. Ora, é precisamente nestas alturas que a ideologia mais faz falta. Porque os políticos não são técnicos, porque não há opções óptimas, porque não basta ser honesto, essencialmente, porque as escolhas privilegiam sempre umas coisas em detrimento de outras e as ideologias são conjuntos de orientações sociais (no sentido mais amplo) que nos permitem prever as posições dos nossos representantes em determinados contextos hipotéticos.
Ora, depois de se ter declarado nem de esquerda, nem de direita, nem do centro, Nobre vem agora dizer: "Eu vou por valores. Há muita gente que ainda não entendeu que já ninguém acredita nessas coisas da direita e da esquerda: acreditam em valores, em pessoas com carácter e com coluna vertebral.". É esta a grande diferença em relação à campanha de Alegre nas últimas presidenciais: para o bem e para o mal, afastou-se da lógica partidária mas não se afastou da ideologia.
Fernando Nobre, ou por ingenuidade, ou por calculismo político populista está prestar um péssimo serviço à democracia. Ao tentar federar os descontentes com os políticos, a política e os partidos, afirmando-se numa cruzada pela qualidade democrática, não faz mais do que corroê-la. Porque, na política, a neutralidade é muito mais venenosa e perigosa que a ideologia.
Fantas...

Via Limpa Vias.
o combate ilustrado

Sobe para cima, filho, sobe para cima
Quanto custa um pelourinho?
Se há julgamento nos jornais? Nem podia ser de outra forma. Como bem referiu Rui Machete (!), que se não me engano foi quem levantou a questão da auctoritas (nada como revisitar os conceitos weberianos de dominação, legitimidade, poder e obediência, em vez de especular infantil e inconsequentemente sobre o tema), factos juridicamente relevantes para fins judiciais não são factos politicamente relevantes na prestação de contas pública do poder, com toda a porosidade que caracteriza a sua relação articulada, tipicamente conhecida como judicialização da política e politização da justiça.
Agora a «percepção dessa legitimidade socialmente reconhecida pode ser facilmente manipulada»? A legitimidade é sempre construída e confeccionada, grosso modo e ao detalhe. Não há legitimidade natural, perturbada pelos media. Se há estratégias apostadas na decapitação de um governo, há duas soluções: aos tribunais cabe o apuramento das irregularidades e à política cabe o contraditório. E no contraditório, cabe a Sócrates todo o ónus da prova que restitua o mínimo de confiança política aos cidadãos. É tão grave julgar no pelourinho como tentar comprá-lo.
Too old to...
Voltando à chamada de capa do Diário As Beiras, a pergunta que se impõe é: mas com tantos anos de Caixa, essas senhoras não deviam já estar em casa, a tratar dos netos?
PIGS

Declaração de princípios
1 - As minorias a que pertenço são absolutas.
2 - Vi, com gosto, alguns episódios da última temporada dos Ídolos.
3 - A qualidade dos meus posts não está garantida.
4 - Não respondo pelo meu passado político (nem pelos outros).
5 - As minhas referências podem ir de Orson Welles a Manuel Moura dos Santos.
6 - Gosto de tudo um pouco, desde que tenha qualidade.
Humildade democrática
Jovem, deputado, socialista e promissor
sociedade de risco

Arte e salvação

Na missiva da embaixada, citada pelo El Pais, é denunciada a ofensa e relembrado ao mundo de que modo a liberdade de expressão pode esconder o preconceito e o estereótipo, crítica na qual Israel foi secundado pelos Reis de Espanha, primeiros visitantes da feira.
Fernando Nobre é Candidato?

Afinal esta discussão de presidenciáveis será bem mais interessante do que se esperava.
O que fará um governo da esquerda socialista?
27 de Fevereiro, Sábado
1. Na política do trabalho e da segurança social
10:00h Orador: Carvalho da Silva, Coordenador Nacional CGTP/IN
10:50h Comentador: Mariana Aiveca, deputada, Conselho Nacional CGTP/IN
11:10h Debate
2. Na política económica e financeira
11:40h Orador: Francisco Louçã, Professor do ISEG e deputado
12:30h Comentador: João Ferreira do Amaral, Professor do ISEG
12:50h Debate
3. Na política de saúde
15:50h Comentador: Isabel do Carmo, médica
16:10h Debate
4. Na política das cidades e ordenamento territorial
16:40h Orador: Mário Vale, Inst. Geografia e Ordenamento do Território/UL
17:30h Comentador: João Seixas, geógrafo urbanista, ICS/UL
17:50h Debate
28 de Fevereiro, Domingo
5. Na política do ambiente e energia
10:20h Comentador: Rita Calvário, engenheira agrónoma, deputada
10:40h Debate
6. Na política de desenvolvimento rural e das pescas
11:10h Orador: Fernando Oliveira Baptista, Professor ISA/UTL
12:10h Comentador: Pedro Soares, deputado, presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas
12:20h Debate
7. Na política de igualdade
14:30h Orador: Virgínia Ferreira, Professora CES/FEUC
15:20h Comentador: Manuela Tavares, UMAR
15:40h Debate
8. Na política de justiça
16:10h Orador: Conceição Gomes, investigadora CES/FEUC
17:00h Comentador: Teixeira da Mota, advogado
17:20h Debate
9. Na política de educação
17:50h Orador: António Nóvoa, Professor FPCE/UL, Reitor UL
18:40h Comentador: Ana Drago, deputada
19:00h Debate
10. Na política externa e de defesa
19:30h Orador: José Manuel Pureza, Professor da FE/UC, deputado
20:20h Comentador: Pezarat Correia, General do Exército
20:40h Debate
O meu fim de linha
A Economia Real
Daniel Bensaïd, o irredutível
«O último combatente da I Guerra Mundial acabou de falecer e agora vamos começar a contagem decrescente dos soixante-huitards», brinca aqui Bensaïd, filmado numa conferência com jovens quando já todos sabiam que ele não iria assistir a essa contagem. A sua presença no Maio de 68 foi o ponto de partida para um trabalho de resgate do pensamento marxista vivo e não dogmático nas décadas seguintes, de que deixou extensa obra. Nunca se desligou da acção política organizada, na LCR francesa - e agora no NPA - ou como dirigente da IV Internacional. «A tumultuosa história dos trotskismos gira em suma em torno de uma grande questão: como continuar “revolucionários sem revolução”?», escreve em "Trotskismos" (edição portuguesa aqui em pdf), o livro que resume a história e as controvérsias que atravessaram esta corrente.
World Press Photo

Do amor às coisas apócrifas
Responder à ala esquerda do Tea Party

O mais lúcido post...
Acolho com algum cepticismo as denúncias apaixonadas, mas tardias, do autoritarismo de Sócrates e da sua incapacidade de lidar com críticas. Foi precisamente esse um dos atributos que lhe mereceu mais elogios quando se tratou de reunir o consenso em torno das «reformas difíceis», contra os «interesses corporativos» e as «resistências à mudança». Nunca faltou apoio a Sócrates para «arrumar a casa», mesmo quando isso implicou uma ofensiva generalizada contra o movimento sindical e contra todos os que se atreveram a denunciar o aprofundamento das desigualdades sociais que acompanhava a sua proposta de «modernização». É verdade que não lhe foi então necessário «silenciar», «afastar» ou «perseguir» pessoas que escreviam nos jornais. Pela simples razão de que os jornais foram há muito higienizados contra esse tipo de opiniões, arcaicas e teimosas, tendo ficado apenas meia dúzia de consciências de esquerda para compor uma duvidosa imagem de pluralismo.
Se é de princípios que se está a falar, então é bom relembrar que a alternativa a Sócrates nas últimas legislativas gosta de fazer humor a propósito da suspensão da democracia e acha um abuso que os jornalistas escrevam as notícias como querem. Por princípio, parece-me indesejável participar numa manifestação dedicada à causa da liberdade, promovida por pessoas que consideravam Manuela Ferreira Leite a melhor solução para os problemas do país e que se dirigem explicitamente a Cavaco para que ele salve a pátria. É sabido que o homem do leme nunca revelou grandes preocupações com o tema e, no que diz respeito ao combate pela liberdade, chega tarde ao seu encontro com a história. Nenhum episódio de calhandrice será suficiente para fazer dele um democrata. A liberdade não vai passar por aqui. Cuidado com as más companhias.
Sobre o manifesto da liberdade
A verdade é que esta movimentação tem uma leitura do tema, por um lado, e uma intencionalidade política, por outro, que não são as minhas. Em primeiro lugar, os problemas que o assunto convoca – as fronteiras entre o poder judicial e o poder político, as relações entre o Estado e a comunicação social e o condicionamento actual da informação – parecem-me deficientemente abordados. Ainda que algumas formulações do texto me sejam simpáticas, perpassa nele uma vontade de investir Cavaco do papel de defensor das liberdades que depois do episódio Fernando Lima só nos devia fazer rir. Em segundo lugar, e não obstante o tom solene e consensualizado do “apelo à liberdade”, temo que a esquerda esteja não tanto a atacar o nosso Berlusconi “caseiro” – figura que agradará, suponho, a muitos dos “assinantes” da petição – mas a alimentar a ideia de que o que precisamos é de alguém que “venha pôr ordem nisto”. Um Berlusconi anti-Berlusconi para depois de amanhã.
And now for something completely different
A night in Bertrand
Manuel Serra (1931-2010)
