Despair in the departure lounge e um abaixo-assinado


Está online há uns tempos um abaixo-assinado que pede a demissão da deputada Inês de Medeiros na sequência do drama "despesas de deslocação".

Ainda não assinei nem sei se assinarei enquanto se continuar a não querer olhar a Medusa de frente.

Ideologia ou Estratégia?

José Sócrates diz que as mexidas no subsídio de desemprego são uma questão de justiça. Medidas que teriam que ser tomadas independentemente do seu impacto orçamental. Quando assim é, ou seja, quando há medidas que são levadas a cabo não por constrangimentos conjunturais mas por uma questão de justiça, não há qualquer razão para que elas não estejam no Programa de Governo.

Nas páginas 71 e 72 do Programa do XVII Governo Constitucional (2006-2009) são bastantes as referência a políticas que incidem sobre o subsídio de desemprego: penalizações nas situações de acumulação de subsídio de desemprego com trabalho remunerado, agravamento das penalizações a empresas que recorram a trabalho ilegal, impedimento das recusas sistemáticas a ofertas de emprego por parte de quem recebe subsídio e reforço da fiscalização na atribuição deste subsídio.
Conclui-se, portanto, que esta concepção de justiça do Primeiro Ministro é produto de um satori decorrente da meditação a que José Sócrates se dedicou durante o seu primeiro mandato.

Nesse caso, talvez a referência a estas medidas da mais elementar justiça estejam no Programa do XVIII Governo Constitucional (2009- ). Neste caso, o trabalho de pesquisa está particularmente facilitado pelas 7 vezes que a palavra "desemprego" pode ser encontrada no documento. Mas a esperança é a última a morrer. Numa dessas vezes, talvez se faça referência a esta medida que acaba com um situação atroz de injustiça. A crise teve impacto nos níveis de desemprego (1), apostar na formação de jovens no sector do turismo para combater o desemprego (2) jovem, articular subsídio de desemprego (3) e trabalho a tempo parcial, aprofundar mecanismos de apoio a artistas em situação de desemprego (4), garantir protecção no desemprego (5), combater a acumulação de trabalho remunerado com subsídio de desemprego (6) e (pode ser que seja desta!) reforçar o sistema público de segurança social para garantir segurança no desemprego (7).

Afinal parece que não, não consta. E Sócrates acaba por não explicar quanto dinheiro vai poupar com estas medidas de ataque selvagem às pessoas que estão em situação mais frágil. Se é estratégico ou ideológico, pouco importa, o que importa é que a reunião com Passos Coelho e os "ataques" das agências de rating deram a Sócrates a oportunidade de ouro para se deixar de merdas e ter que fazer o difícil exercício de arranjar justificações e/ou desculpas de preocupação social para continuar a fazer o que tem vindo a fazer desde que tomou posse.

Espírito de iniciativa


É de gente assim que este país precisa para ir para a frente! Com espírito de iniciativa, de sacrifício, de equipa. Iniciativa e dinamismo. E, mais importante ainda, conhecimentos de informática na óptica do utilizador. Pessoas capazes de traçar um caminho rumo aos objectivos a que se propõem.

Vão subir na vida, malandros!


Como é óbvio. O que é preciso é que se incentive a malta a aceitar todo um manancial de boas propostas de emprego que por aí anda. Além do mais há por aí muita terra para lavrar, muita berma para limpar, muito sapato para coser, muita peça para montar, muita escada para esfregar. Tudo em suaves prestações mensais.

A propósito do Inter - Barcelona (ou um post quase sobre futebol...)


... para não dizerem que os/as escribas do Minoria Relativa nada ligam a esta modalidade desportiva que move massas (nos vários sentidos do termo excepto fusilli e tagliatelle).


Sabemos que o Barcelona se assume como símbolo identitário forte para a região catalã. Não surpreende, pois, que a ida do Figo, idolatrado então pelos adeptos do Barça, para o Real Madrid, tenha constituído narrativa literária capaz de remeter o Otelo para segunda categoria no que diz respeito a dramas baseados em marcadas traições. Tudo isto para dizer que o Mourinho é too sexy for his job, quando escolhe o Figo como Delegado de Jogo e o leva para o banco dos suplentes no Camp Nou.
P.s. Sim, já estive no Camp Nou, vazio é certo, mas estive (ah pois é).

«Uma directa com Maria»

A Marcha Global da Marijuana em Lisboa é só no dia 8, mas há milhares de jovens que começam a festejar já este sábado à noite no santuário de Fátima. Eis algumas das actividades previstas: Espaço permanente de cinefórum e uma capela aberta para a Reconciliação ou simplesmente encontro dos jovens com sacerdotes disponíveis para o diálogo. Espaço Lounge com música ambiente e serviço de alimentação aberto toda a noite. Termina junto do túmulo dos Pastorinhos, às seis da manhã. E quem aguentar até às nove sem ver o sol a andar à roda, é careta.

"Esta catástrofe demográfica faz de nós um povo em vias de extinção e ameaça a nossa herança e cultura."

Várias poderiam ser as citações a retirar de mais uma delirante e divertida crónica de João César das Neves. Por estes dias, qualquer pessoa de bom senso não faz outra coisa que não ignorar por completo JCN e as suas descompensações que, mais do que episódicas, parecem ser a regra. Ora, eu não sou uma dessas pessoas. De uma assentada, como é costume, insurge-se contra o aborto, a lei da procriação medicamente assistida, o divórcio (que relaciona directamente a fenómenos como insucesso escolar, depressões, miséria e crime), as uniões de facto, o casamento de pessoas do mesmo sexo, as praias de nudistas (!) e compara estes processos legislativos às obras de Nero, Napoleão e Hitler. Enfim, que o senhor é um prato já se sabe. Nada de novo. Mas se utilizo esta citação de JCN (penso que é a primeira vez que falo publicamente do respeitável senhor de barbicha), faço-o com um propósito muito claro.

Fora os delírios que não convencem senão os que já estão convencidos, um tipo de argumento contra este tipo de medidas de liberalização da vida privada é especialmente inquietante: o demográfico. Se consigo perceber o argumentário assente numa posição moral de defesa da vida contra o aborto, por exemplo, mais difícil de engolir é a patranha de que os projectos de vida das pessoas devem estar sujeitos à prossecussão de um desígnio nacional. Não falo da ridícula afirmação de que os portugueses estão em vias de extinção mas da ideia que suporta este argumento e que repetidamente é invocada. É uma ideia que esquece por completo que barrar os caminhos do divórcio, das uniões de facto, do aborto, do casamento e da procriação medicamente assistia é sentenciar pessoas à infelicidade. Esta é uma sentença que obrigou mulheres a sujeitar-se a situações insuportáveis de violência, que obrigou pessoas a viverem o seu amor na marginalidade. É uma sentença que não pode ser decretada em nome da demografia. É uma sentença estúpida defendida por este imbecil que ainda tem a lata de falar em monstros.

Dos mercados (I)

«Nenhuma sociedade poderia sobreviver durante qualquer periodo de tempo, naturalmente, a menos que possuísse uma economia de alguma espécie. Acontece porém, que, anteriormente à nossa época, nenhuma economia existiu, mesmo em principio, que fosse controlada por mercados. Apesar da quantidade de fórmulas cabalisticas académicas, tão persistentes no século dezanove, o ganho e o lucro feito nas trocas jamais desempenhou um papel importante na economia humana. Embora a instituição do mercado fosse bastante comum desde a idade da pedra, o seu papel era apenas incidental na vida económica.»

Karl Polanyi, The Great Transformation, 1944.


What's true can be made to seem like it's a lie...



...and what's a lie can be made to seem like it's true.

«Nossa» dívida pública? Só se for tua...

É extraordinária a capacidade que pessoas aparentemente letradas têm de, assim de mês a mês, disparatar. Depois de um elogio manhoso ao simbolismo (!) do Bloco Central - a data da distribuição partidária do aparelho de Estado merecia um feriado nacional, com jogo de futebol obrigatório e bandeirinha pátria na janela -, remata com a seguinte oração à Nossa Senhora: «PS e PSD vão trabalhar juntos para fazer frente à especulação dos mercados contra a nossa dívida pública». Cabe-me portanto lembrar às pessoas de bem que, nas últimas décadas, foram os sucessivos governos (ok, sucessivos governos é propriedade conceptual da CGTP) bloquistas e comunistas que engordaram esse pesado, anacrónico e demoníaco Estado Social, patrocinando e financiando a irresponsabilidade bancária, privatizando empresas públicas lucrativas, dando prioridade na despesa à aquisição de equipamento militar, celebrando parcerias público-privadas predatórias para o interesse público e corrompendo ou parasitando à la Rui Pedro Soares o Estado e a vida política nacional. Felizmente... Felizmente há luar e PS-PSD, para travar o assalto socialista ao Estado e a bancarrota a que conduziu o país. Que alívio. «O PSD caceteiro pode arrumar as botas» porque a boa moeda chegou para vencer: enquanto não for arguida, acusada e arrumada como manda a sapatilha. Sou populista, sou.

Mas Eduardo Pitta deixa o melhor para o fim, tipo orgasmo ou parte do meio da torrada: lança foguetes pelo aperto do «controlo (e, em certos casos, mudança das regras de atribuição) do subsídio de desemprego e outras prestações sociais». Os ciganos do rendimento mínimo e os chupistas dos desempregados são os grandes responsáveis pela insustentabilidade financeira do país. Além disso cheiram mal, porque são pobres, o banho é raríssimo e de literatura sabem tanto como o Maradona. Eduardo Pitta sabe que, no fundo, esta gente não quer trabalhar, até porque anda há meses há procura de uma mulher-a-dias paga a euro e meio à hora e não há alminha que lhe pegue. Diz que as gajas agora só querem fumar e assim, mas trabalhar 'tá queta.

O mercado é um cliente mafioso

O perigo de contágio da Grécia não funciona propriamente como o perigo de contágio da Gripe A. Em abono da verdade, também não é propriamente de contágio que falamos. A mão invisível do mercado segura uma bem visível pistola e alerta, qual epidemiólogo: "se ele [Grécia] morrer, dou-te [a Portugal, Espanha, Irlanda...] um tiro". Ou seja, se um morre, o outro leva um tiro mas convenhamos que não se trata tanto de contágio como de uma lógica siciliana de prestação de contas.

Mas depois vem Belmiro de Azevedo dizer que "o mercado tem sempre razão" [sem link, ouvido ontem no noticiário da Antena 1]. Ou seja, o mercado é como se fosse uma espécie de cliente.

E quem é que, no seu perfeito juízo e tendo um negócio, dispensaria o dinheirinho de um cliente mafioso?

E agora, algo diferente

Quem me conhece sabe que eu sou boa pessoa e não sou nada dado a estas coisas. Mas a páginas tantas uma pessoa não tem outro remédio senão fazer referência ao Marx. É a custo que o faço mas ao saber da nova proposta da CIP, sinto que é um deve cívico fazê-lo.

O que se quer combater é consensualmente considerado como digno de ser algo a combater: "evitar que alguém possa ganhar mais estando no desemprego do que a trabalhar". Ora, como é sabido que os salários em Portugal já são extravagantemente altos, António Saraiva propõe que se mexa no subsídio de desemprego, essa prestação que alimenta preguiçosos malandros, acabando com o seu limite mínimo.

Ora, é precisamente a existência de um subsídio de desemprego mais ou menos digno que permite que a lógica da formação de um exército industrial de reserva se complete na sua plenitude, ou seja, que permite que os trabalhadores não sejam obrigados a aceitar condições de trabalho precárias sob ameaça de outros, em situação pior, as aceitarem. Depois da generalização do recibos verdes que, de uma machadada, resolveram o problema do salário mínimo, dos descontos para a segurança social, e das barreiras ao despedimento por dá cá aquela palha, só falta mesmo tentar fazer com o Estado deixe de cumprir as suas funções de segurança social para deixar os trabalhadores numa situação precária ideal.

Isto já para não dizer que, se com subsídios de desemprego baixíssimos a sua média é superior à média dos últimos salários dos beneficiários, isso diz muito mais dos salários que dos subsídios.

E pronto, posso voltar ao meu eu liberal de todos os dias.

Ética e Estética

Nada tenho contra este projecto artístico intitulado «Monumento ao Desempregado do Ano». Acho até extremamente interessante a subversão do artefacto celebratório, o apelo ao envolvimento colectivo e a tentativa de dar visibilidade à questão do desemprego e da precariedade. Aqui a ética está intimamente ligada ao projecto estético, a arte inseparável da vida. Por isso, os meus parabéns às auto-designadas «artistas/desempregadas/trabalhadoras precárias Andrea Inocêncio e Mariana Bacelar».

Curioso mesmo é o facto deste ter sido seleccionado no «Concurso de Projectos Artísticos - Serralves em Festa 2010». A mesma instituição que despede os seus trabalhadores a falsos recibos verdes premeia uma crítica à sua própria prática. Não terá sido decerto a gestão administrativa a avaliar estas candidaturas, mas sim a direcção artística, mas isso não torna a situação menos caricata. Que a crítica artística se insinue nos interstícios, mas com a certeza de que é preciso muito mais força social para mudar este estado de coisas.

PALILALIA



"Eu não. Eu não.
Eu? Eu?
Oh oh Clara, Clara...(x10)
Eu farto, to farto de virgens"

(PML lança a nova música dos Buraka)

Olh'ó respeitinho!

Aquece a alma saber que o PS vai fazer tudo por tudo para devolver o respeitinho à escola. Dele já se sabe, pelo menos, que é bonito, mas o que ainda não se sabia é que para que o dito exista, é preciso conhecer e respeitar um conjunto de documentos e símbolos que corporizam uma matriz "de valores e princípio de afirmação da humanidade". Ena, ena! Viv'ó luxo! E quais são esses documentos e símbolos? - perguntará o leitor mortinho de curiosidade. Pois bem: a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Ah!, e parece que também a bandeira e o hino nacionais. Bonito, não? Agora é que vai ser ver os petizes cheio de respeitinho que é bonito e com um amor à pátria tal que nem multas de estacionamento vão ter.

Quem nunca citou Lenine que atire a primeira pedra



Podem ouvir aqui.

You know that it would be untrue
You know that I would be a liar
If I was to say to you
Girl, we couldn't get much higher
Come on baby, light my fire
Come on baby, light my fire
Try to set the night on fire

Comic relief


Link! Começo já por isto para evitar merdas. Desde que revi o sketch do pasteleiro José Severino (também com link, não vá o 007anthony007007 armar escarcel) que não me ria de tão bom rir. E, como não sou homem para ficar com o riso todo para mim, deixo o link bem linkado até porque os tempos da escola primária já lá vão e perdi a prática neste tipo de contendas.

Huge anti-climax moment

Coisas que podem estragar o filme Leonard Cohen: Live at the Isle of Wight 1970, de Murray Lerner, no Indie Lisboa: ter o Durão Barroso a respirar atrás de nós. Aceitam-se possíveis explicações para a sua presença (vá, outra qualquer que não o maoísmo).

Ah, you loved me as a loser
But now you're worried that I just might win
You know the way to stop me, but you don't have the discipline
How many nights I prayed for this, to let my work begin
First we take Manhattan, then we take Berlin

First We Take Manhattan, Leonard Cohen

O Moralista

Pelo humor geriátrico a que se vai assistindo nos momentos mais relaxados da Comissão de Inquérito ao caso PT/TVI, esta pequena corporiza - e tantas coisas que ela corporiza - o zelo jurídico pelas normas regulamentares daquela específica valência parlamentar. Portanto, zelosa. A meu ver, trata-se acima de tudo de uma jovem promessa da política nacional que me merece toda a confiança do mundo e que traz consigo uma capacidade inexcedível para erguer o país. Olé :)

Aprendei

Tribo, subcultura ou embuste, a cena indie é dos fenómenos musicais mais conseguidos, interessantes e fidelizados da última década e meia. E sim, polissémico, mas não me apetece agora enfiar-me na discussão do conceito original de «independência» (estética, criativa, comercial, dos pais, etc). Sublinho apenas que um sinal da sua consistência reside na tendência que tem para gerar militâncias, ora entusiásticas, ora destrutivas, mas militâncias. Passa de besta a bestial no intervalo de uma mesa de café e é raro o urbanóide a quem possa passar despercebida ou indiferente (o que é facilmente testemunhado pelo facto de, por sistema, o espécime sacar do bolso um adjectivo muito próprio com o qual se atira ao indie como que a desvendar-lhe a verdadeira essência: genial ou fraudulenta).

Mais: é difícil situar a cena indie face à dicotomia dominante vs alternativo, muito cara às abordagens críticas das dinâmicas de criação, mediação e consumos culturais e do seu potencial simbólico no conflito e na disputa social. Parece-me, por isso, bastante pedagógico para clarificar que a guerrilha urbana e a luta por imagens e verdades sobre as cidades não se esgota na parolada grafiteira nem está condenada ao mau-gosto do hip-hop e quejanda porcaria suburbana. Sim, há aqui coisinhas de classe que fazem muita (demasiada) diferença, mas esqueci-me de inquirir os indivídios para chegar a conclusões respeitáveis - embora a minha intuição valha mais que essas pintelhices do rigor e da validade.

Serve este breve intróito (!) para dizer que o indie é muito bom, o melhor de todos, e que toda a música que lhe seja de alguma forma estranha tem grande probabilidade de não valer um caralhinho. Dito isto, passo a apresentar o Festival Incerto de Música Urbana, que decorrerá no Teatro Aveirense a 28 e 29 de Maio. Este projecto da Mariana Ricardo merece particular atenção. Além disso, na próxima sexta-feira pára por lá a Juana Molina e ao sexto dia de Junho o Bonnie "Prince" Billy, primo aqui do Diogo Augusto.

Sexta 28
Warpaint + Matt Elliott + Rita Braga + After Party (após concertos)

Sábado 29
Debate (17h), com críticos de música nacionais e programadores culturais
Scout Niblett + Here We Go Magic + Mariana Ricardo + After Party (após concertos)

Um 25 d'Abril e um sental p'ró deitar

ERA QUEM O EMPALASSE

A comprovar-se a notícia (a fonte é segura) de que, após a visita de Ratzinger, «o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, vai vetar o diploma que consagra o casamento entre pessoas do mesmo sexo», estou disposto a foder-lhe a marquise à pedrada e só espero que aqui o negão o apanhe numa esquina e lhe dê conta dos verdadeiros perigos e perversões da desorientação sexual.

Adenda: Cavaco desmente decisão sobre casamento gay. Eu sabia que a Rádio Renascença estava aí para as curvas, mas se a ideia era testar reacções e preparar terreno para ganhar na secretaria o que perdeu no parlamento convenhamos que é preciso um pouco mais de inteligência política. Eventualmente seria pedir de mais.

O Domingos Névoa é ainda mais paspalho que os outros dois

Afinal tentou subornar uma pessoa que não tinha competência para cumprir o solicitado. Foi absolvido do crime de corrupção, mas devia ser preso por absoluta incompetência. Assim vai a justiça.

O velho samurai


Não posso deixar de ficar enternecido e até solidário com a causa rui-pedro-soarista. Aliás, rejeito veementemente toda e qualquer tentativa de enxovalhar o senhor. Não passam de interpretações etnocêntricas do fenómeno que não têm em conta as bases ideológicas que sustentam a corajosa atitude de Rui Pedro Soares. A haver ponta por onde pegar na crítica a Rui Pedro Soares é a utilização de três nomes, prática que abandonei recentemente e em relação à qual, portanto, tenho absoluta isenção. Mesmo que a malta ainda não tenha dito nada em relação ao assunto, eu sigo o exemplo deste velho samurai e chego-me também eu à frente ainda que em jeito meio rapper: RESPECT! Se "não há a figura do direito ao silêncio"numa comissão de inquérito, que seja criada. Não podemos mais refugiramo-nos em ideias parvas de escrutínio democrático, é hora de alargar horizontes, aceitar as lições do extremo Oriente em toda a sua sabedoria e sensatez. Pede-se ao Cosmos e a todos os deuses que nos forneçam mas homens deste gabarito.

Cientistas em Saldos II


Mais, do artigo publicado pelo David Marçal no Público de ontem, aqui.

Rui Pedro Soares

No âmbito do inquérito parlamentar, uma primeira audição a essa coisa nojenta chamada Rui Pedro Soares permitiu compreender o papel central que o artista desempenhou - entre outras coisas - nas manobras políticas de tentativa de aquisição da TVI. Pelo que horas mais tarde se recusou a responder a toda e qualquer pergunta sobre o assunto, invocando «direitos» que lhe são certamente conferidos pelo Direito Canónico, mas que - graças a Deus - não o aliviam do crime de desobediência qualificada à comissão de inquérito da AR.

No que isto vai dar, não sei. Sei apenas o que já sabia: que essa coisa nojenta chamada Rui Pedro Soares, para além de ser uma coisa nojenta chamada Rui Pedro Soares, diz mais das elites dirigentes do Estado do que todo e qualquer tratado de sociologia política contemporânea. Além disso é também um contributo importante para ampliação e densificação da noção de «nojo», a que nem o Processo Civilizacional de Norbert Elias conseguiu chegar de forma tão empírica e clarividente. Parabéns ao Partido Socialista pela tolerância ao nojo, embora aos olhos do pai a coisa penda mais para o orgulho.

Prefiro o Vangelis...



... mas a Dionne Warwick dá um gostinho especial a este video comemorativo de mais um aniversário do inefável Partido Socialista.

A mão é invisivel...

...mas dá cada bofetada!

Depois dos cornos, o corno


Quando se diz de alguém que é ou está manso, isso é insultuoso?

Assim de repente, a associação de manso a corno parece-me que só poderá ser entendida quando explícita (e.g. O senhor Primeiro Ministro é um corno manso) e, mesmo nesse caso, a "acusação"não é mais do que a de que se é passivo numa situação em que se é traído numa relação amorosa. O mesmo seria dizer: "a abertura de espírito de vossa excelência permite-lhe ultrapassar os arcaicos conceitos de masculinidade centrados na violência exercida sobre quem coloque em causa a situação de posse de uma amante". Estamos, portanto, em qualquer dos casos, não no campo do insulto mas no campo do elogio. Logo, nem Sócrates se deve chatear nem a tia de Louçã foi desrespeitada. Portanto, os meninos, façam favor de apertar o bacalhau e de se deixarem de choraminguices!

How Long Is Forever

Uma boa forma de diminuir os cristãos «faz de conta» seria talvez deixar de contabilizar pessoas que não o são, não lhe parece ó excelentíssimo Cardeal? O pedido de apostasia não deveria ser mais dificil que o formulário de candidatura a fundos estruturais da União Europeia. Assim limpava as estatísticas de alguns hereges, mas isso nem convém muito por causa das subvenções estatais. O problema dele é outro, bem sei, mas não meto a foice em seara alheia.

Como os jovens são tramados, deixo aqui um video para que na próxima vez o D. José Policarpo consiga responder à pergunta de «quanto tempo dura a eternidade». O Cliff Richard explica.


Manuel Pizarro é Mr. Clean



Já percebemos como é que o Ministério da Saúde vai reduzir o número de utentes sem médico de família: vai fazer uma limpeza.
É que afinal 300 mil portugueses nem querem ouvir falar em médico de família. Preferem não utilizar um serviço de qualidade onde não têm de esperar horas por uma consulta, meses para serem referenciados a outra especialidade, dispensam a enorme vantagem de conhecer um médico diferente a cada visita. Tudo funciona às mil maravilhas mas eles preferem pagar um seguro de saúde e consultar um “médico privado”.
Faz sentido. Limpem-se as bases de dados.

Felizmente sou pré-Bolonha e da província

Este jovem chama-se Manso e não se importa

Mama mama, Papa papa

1. Como depressa e bem há pouco quem, confesso agora a minha alegria gigante pela nova aquisição relativo-minoritária: Cátia Guerra. Como já tive oportunidade de publicitar, Cátia Guerra cursou lavores, mas tem-se dedicado à decoração crítica de automóveis. Tem aliás feito sucesso nas imediações da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

2. E naturalmente secundo-a, apresentando ao Santo Padre a minha solidariedade amiga. Pelo que ainda ontem comprei duas coisas, além do L&M azul:

- o Nós, os vencidos do catolicismo do Bernardes ("Bénard" em Lisboa) da Costa, na Feira do Livro de Coimbra: mais um evento deplorável, a juntar ao azeite do TAGV e onde tive a sorte de encontrar o nosso amigo hugo mãe - lá está - a ajudar a temperar o evento com... ainda mais azeite;

- a Bíblia Sagrada, na FNAC. Larguei 9,60 euros porque me esqueci do cartão p'ró desconto.

Mas voltando ao Santo Padre, devo dizer que há aqui muito trabalho (pedo)psiquiátrico a fazer (ui, agora inverte-se assim o ónus destas merdas por capricho intelectual, é?) e insisto: se o Papa é «mal» e merece fiar fininho nos calabouços há muito laico e republicano com responsabilidades públicas (Seguranças Sociais, Ministérios Públicos e afins) que lhe devia fazer companhia na reclusão material e espiritual. E só não digo que Manuel Alegre está metido ao barulho porque isso é porco e não lhe quero estragar a campanha ;)

Papa-açorda

Não está fácil ser Papa. Em Itália foi empurrado, em Inglaterra querem prendê-lo, em Portugal será recebido por uma maré de bandeiras pretas e já se ouve um coro de protestos contra a tolerância (de ponto). Não chores mais Ratzi, no Minoria terás sempre um ombro amigo. Eu até já pedi uma roupita emprestada para te ir buscar à plataforma da estação.


Recortes para o álbum do centenário da República


1.
«Alegre quer ser eleito por todos os portugueses que não são de direita. Incluindo bastantes que são da esquerda séria e da direita tonta. Como bipolar de ambas as coisas, digo já que vou votar em Alegre. O apelido é bom, como a campanha de Eça e Ramalho. O homem é homem e poeta. Seria perfeito se fosse homossexual. Mas a parte que lhe falta para tal coisa é igualmente aceitável».
"Venha o Alegre", por Miguel Esteves Cardoso

2.
Esta semana, um instituto da Causa Monárquica e o seu presidente da Assembleia Geral em pré-campanha presidencial reagiram indignados à «afronta» sofrida por Cavaco por parte do seu anfitrião checo. Dom Duarte e Fernando Nobre acusam Cavaco de não ter reagido em defesa do bom nome da República.

Luta de classes

Ego

- De onde és?
- De Ferreira do Zêzere. E tu?
- Eu sou daqui:

Blood makes noise


Helena Matos está exangue com a doação de sangue por homossexuais. E não há estudos (arranjo mais vinte a dizer o mesmo e o seu contrário), entrevistas ou relatórios que a deixem sossegada. Tem medo de que o medo à palavra discriminação determine orientações de saúde, que a ideologia obnubile as consciências mais audazes. Ora isto das orientações de saúde sempre foi um equilíbrio entre consensos científicos e decisões políticas. Porque da ciência à verdade vai o passo de um gigante (já o diziam os construtivistas) e Helena exige o impossível quando clama "que se deixem de ideologias e expliquem o que está realmente em causa". Mas se procurarmos bem, a base do rastreio está nos comportamentos de risco (não nos grupos de risco) e, por isso, a questão "nos últimos 6 meses teve novo parceiro sexual?" já está incluída no questionário aplicado de forma transversal aos dadores. Para os que escapem a este apertadíssimo interrogatório (quase melhor que um polígrafo) ainda existe uma bateria de exames para excluir qualquer doença hemato-contagiosa.

Por estas e por outras, eu que até percebo as dúvidas helenistas, juro a pé juntos que o problema é continuar a haver pessoas que teimam em confundir homossexualidade com promiscuidadade (e outros pecados originais), e pior, estarem de pedra e cal à frente de organismos públicos.

here she comes breakin through my window(s)

Fui convidada para "contribuir no blog: Minoria relativa" Contribuir? Só se for para dar à letra! Convite aceite.

Última hora: Tio de Sócrates desafia tia de Louçã para um frente-a-frente


O momento mais feroz do debate quinzenal. Imagens SIC

Eu não dizia que este blog respira cultura que até dói?



Da responsabilidade de um punhado de docentes de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, realiza-se em 27-29 de Maio de 2010, em Coimbra, o VII Encontro Internacional de Poetas.

Cumprindo uma tradição de quase vinte anos, o VII Encontro reunirá uma vez mais poetas de Portugal e do mundo. Uma vez mais, em lugares aprazíveis da universidade e da cidade de Coimbra, ouvir-se-ão as línguas muitas da poesia, num Encontro este ano subordinado ao tema geral justamente de “As Línguas da Poesia”.

Estão confirmadas as presenças de Charles Bernstein, Próspero Saíz e Ntozake Shange, dos Estados Unidos da América; Marlene Nourbese Philip, de Trinidad y Tobago/Canadá; Ch´aska Eugenia Anka, do Peru; Régis Bonvicino, Wilmar Silva, Camila do Valle, Dona Nice-Quebradeira-de-Coco e Martinho da Vila, do Brasil; Moya Cannon, da Irlanda; Liana Sakelliou, da Grécia; Stephanos Stephanides, de Chipre; Ana Blandiana, da Roménia; Amina Saïd, da Tunísia/França; Uxue Alberdi e Miren Artetxe, do País Basco/Espanha; Manuel Rui, de Angola; Delmar Gonçalves, de Moçambique; Maria Teresa Horta, Ana Luísa Amaral, Helga Moreira, Pedro Sena-Lino, Cristina Nery e aNa b, de Portugal.

As tardes e as noites destes três dias serão ocupadas com leituras e performances de poesia, as manhãs com mesas-redondas para discussão das tendências da poesia contemporânea e problemas de tradução entre as diferentes línguas. De igual modo cumprindo a tradição, também neste VII Encontro Internacional de Poetas a poesia andará de mãos dadas com a festa.

Inscrições aqui.

Precariedade no Le Monde diplomatique - edição portuguesa

O seguinte conjunto de artigos, parte de um dossiê mensal sobre precariedade em Portugal, é o resultado de uma acção conjunta entre o Le Monde diplomatique − edição portuguesa e o Mayday Lisboa.

Disponibilizamos em acesso livre os seguintes artigos:

1.- «Precariado: de condicionado a condicionante político» e «Os precários saem do armário», por José Nuno Matos (Setembro de 2007)

2.- «Call Centers: à descoberta da ilha» e «A ilha vista à distância» por Jorge da Silva e Fernando Ramalho (Setembro de 2007)

3.- «O trabalho em centros comerciais», por Sofia Alexandra Cruz (Julho de 2009)

4.- «Vamos brincar aos jornais», por João Pacheco (Outubro de 2009)

5.- «As faces precárias da flexibilidade», por Ana Maria Duarte (Dezembro de 2009)

6.- «O verde e a esperança: vivências da crise no Vale do Ave», por Virgílio Borges Pereira (Fevereiro 2010)

Também eu não escreverei um post sobre os casos de pedofilia na Igreja Católica - After Madalena Duarte

O Jornal de Notícias (JN) publicou hoje uma pequena notícia segundo a qual o jornal "L'Osservatore Romano" enterrava o machado de guerra que desde 1966 ameaçava cair sobre o pescoço da banda que se anunciou "mais popular do que Cristo".

Num editorial do "L'Osservatore" do dia 15 de Novembro de 2008 podia ler-se que a afirmação de John Lennon não passaria de "uma gabarolice de um jovem da classe trabalhadora inglesa, lutando para lidar com o sucesso inesperado" ("the boasting of an English working-class lad struggling to cope with unexpected success.") e saudava-se de forma veemente a influência da banda na música que se lhe seguiu.

O Vaticano renova agora, de acordo com o JN, o seu sincero perdão.

O White Album tem 42 anos, o Papa tem 526 e é de esperar que Maurizio Cattelan, Eugenio Merino e a actriz Kelly McGillis sejam os próximos amnistiados.

Cuidado co (Adeus) Lenine

O blogue já tem uns dias, mas fica aqui finalmente a referência. «Que fazer»? É ler o Adeus Lenine.

Diminuição da desigualdade?

Vale a pena seguir o Observatório das Desigualdades, pelo repositório de informação que condensa e pelo tratamento que dela faz. Alguns dos dados não constituem grande surpresa: Mulheres portuguesas têm maiores níveis de escolarização do que os homens mas são mais afectadas pelo desemprego e pobreza ou Risco de pobreza: o efeito negativo do desemprego.

Mas um outro artigo atraiu a minha atenção: Desigualdade na distribuição do rendimento entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres tem vindo a diminuir desde 2004, mas em 2008 atingia ainda a casa das dezenas. Contra-intuitivo? Pois parece. A redução da desigualdade é pequena, a série temporal é curta e termina em 2008 (dados provisórios) o que não permite incorporar o sucedido desde a crise económica, posterior aumento de desemprego e a expectativa de redução nas prestações sociais que possui efeitos (embora limitados) na redistribuição do rendimento. Portanto, mesmo que seja uma descrição fidedigna, a realidade pode ter já mudado.

Mas para além do escrutínio necessário da metodologia utilizada na construção destes instrumentos de medida, é importante não ignorar a economia política da coisa, ou seja, que as desigualdades resultam de campos estruturados de relações sociais que permitem aceder a recursos e a graus diferenciados de liberdade conforme o seu posicionamento nesses mesmos campos.

Especulo. Que efeito poderia ter na «diminuição das desigualdades» o aumento das «poupanças» nos off-shores, eufemismo para designar dinheiro não tributado e na maioria dos casos não declarado? Sabemos que os peixões não gostam muito de ter o dinheiro aqui parado, à mão de semear e de tributar.

O pitch da denúncia

Que bela maneira de começar a semana: A deputada Cidinha Campos, do Partido Democrático Trabalhista, acerta no pitch para denunciar casos de corrupção de deputados estaduais no Brasil.
Cortesia de Ana Biscaia.


Também eu não escreverei um post sobre os casos de pedofilia na Igreja Católica


Amarcord (1973, Federico Fellini) via Old Hollywood

Conselho Superior da República

A proposta de Pedro Passos Coelho de criação de um Conselho Superior da República é, como não poderia deixar de ser, repugnante. Vem na linha das propostas presidencialistas, na linha das propostas de criação de círculos eleitorais uninominais, na linha das propostas da criação de uma segunda câmara, de senadores. Vem na linha de uma série de propostas que tendem a apontar para a atribuição de poder a uma grupo restrito de homens-bons, livres das maléficas tentações de corrupção da gentalha. Vem na linha da fulanização da política e da ideia de que, afinal de contas, o que é realmente importante é que as pessoas sejam competentes e honestas. Acabam, assim como quem não quer a coisa (mas querendo-a!) com a própria ideia de política democrática. Começamos bem...

Saber mais que a Amália

Conclui Guilherme d'Oliveira Martins que políticas e dinheiro público são geradores naturais de corrupção, ao contrário das virtudes genéticas e inquestionadas do sector privado. São afirmações que não surpreendem quem acompanha as armadilhas do consenso ideológico que sustenta a economia política neoliberal (ca bruto!). Isto para além da tarefa hercúlea de distinguir Estado e Mercado em território luso: cuido aliás que não se incluiu o sector financeiro extravagantemente subtributado no chorrilho de lamentos sobre a enormidade de portugueses dependentes do Estado. Já os alarves do RSI não foram poupados à denúncia de oportunismo e ingratidão. Mas voltando às palavrinhas d'Oliveira Martins, reafirmo o que aqui escrevi sobre o contributo do Tribunal de Contas (sob a sua presidência) para o escrutínio da actividade do Estado e para a exposição de muita macacada económica e financeira (boa tarde parcerias público-privadas) até então vendida como ibuprofeno para a dor de cabeça. E é por isso que, ao concordar excessivamente com o que Tiago Barbosa Ribeiro aqui diz, não percebo exactamente onde ele quer chegar. Quer desgastar o Oliveira Martins pela esquerda? Estou curioso.

Quantos aumentos de bolsa vale um Mexia?

Face ao chumbo do aumento extraordinário das bolsas de investigação, umas contas de merceeiro.

1) 10% de aumento das bolsas de 745 euros = 74,5 euros/mês = 894 euros/ano.
2) 5% de aumento das bolsas de 980 euros = 49 euros/mês = 588 euros/ano.

O magro bónus do Mexia (3,1 milhões de euros) daria para aumentar 3468 bolsas do primeiro tipo ou 5272 do segundo. Peanuts.

Merda por merda venha a Ana Cantora

Há muito, muito, muito ano que se discute o papel do Estado central, regional e local nas dinâmicas de criação, mediação e consumo culturais. Não tenho agora tempo (!) para recensear o debate, mas para o que aqui nos interessa devo dizer que não cedo à teoria da subsídio-dependência (hoje acordei de esquerda, para desenjoar). Julgo aliás que não é preciso nem inventar uma excepção cultural à Malraux-Lang nem bater com os costados no Bloco de Esquerda para compreender a falibilidade e insuficiência do mercado e das indústrias criativas na provisão artística e cultural das pessoas (que de resto muito estimo, porque - como diria a doçura de Eduardo Sá à sobredotada Isabel Stilwell - «o importante não são as crianças, são as pessoas» - olé).

Mas também não me parece que a falta de dinheiro justifique a programação parola, preguiçosa, cobardolas e iletrada que o Teatro Académico Gil Vicente oferece aos doutores de Coimbra no mês de Abril. Depois a culpa é do La Feria e do falecido Mário Nunes, como alardeavam os Amigos da Cultura.

Fica a Ana, que nunca desilude:


A China chega a Kalmar (2)

Ainda a propósito da aquisição da Volvo por parte da Geely. A maior empresa automóvel chinesa tem uma história assinalavelmente curta. Fundada em 1986, entra nesse sector em 1998 e começa a exportar somente a partir de 2003. Em 2009 produziu 329.100 veículos, o que a coloca em 10º lugar no ranking das empresas automóveis com unidades de produção na China. As restantes nove empresas são subsidiárias ou consórcios que produzem marcas não chinesas.

Numa análise por empresa, Geely desce para uma posição modestíssima. É natural que assim seja, pois a sua entrada é recente num mercado onde compete com as já estabelecidas empresas norte-americanas, europeias, japonesas e sul-coreanas. Neste contexto, uma das principais novidades dos últimos anos foi mesmo a crescente presença internacional da indiana Tata Motors que comprou à Daewoo uma unidade de veiculos comerciais, produz veículos pesados em Zaragoza, e adquiriu, em 2008, a emblemática Jaguar Land Rover.

A aquisição da Volvo por parte da Geely fará parte de uma estratégia mais consequente de internacionalização, com vista à entrada no mercado europeu e norte-americano, ganhar dimensão e capacidade, diversificar a sua oferta em diversos segmentos e de transferência de know-how para a empresa mãe. Seria interessante perceber se esta estratégia será util também para se consolidar no país que em breve terá o maior mercado interno mundial.

A Geely está muito longe de pertencer às 500 maiores empresas mundiais e o negócio de 1,8 biliões de dólares nem é muito chorudo. A China possui já um importante sector bancário e grandes industrias petroquímicas e de infra-estruturas. Tem procurado assegurar o acesso a matérias-primas, sobretudo em África. As suas exportações permitiram crescimentos sustentados elevados, balanças comerciais altamente favoráveis e uma imensa acumulação de capital que procura agora ser reenvestido. Muito deste optará (e tem optado) pela solução financeira, mas parece-me que, depois da Geely, seguir-se-ão muitas outras empresas chinesas, tornando-se numa presença constante no cenário económico global.

"Feminismos dos corpos ocupados: As mulheres palestinianas entre duas resistências"

Recomenda-se a leitura deste artigo do Público de hoje sobre a tese de mestrado de Shahd Wadi em Estudos Feministas na UC. Parabéns Shahd!*

Ó Ana vem ver, ó Ana vem ver, ó Ana vem ver

GNR - Freud & Ana

Mão morta/Mãe morta
Vai bater àquela porta
"Que se lixe quem não dança"
(disse Carl Jung)
É o século XX/
É o sexo vintage
A nossa doença, a nossa militância
E há cá quem sofra de complexos
E quem se queixe de SIDA
Mesmo de novas misturas
Em casais de pombos
E há cada vez mais novos combos
E até electro-choques
Insulina a rodos e outros mentais retoques

Querida,
Apareces-me em sonhos
Com penas de gato e muita comida
Que não te falte nada
Mesmo assim vestida
A tua líbido é mistura
De desejo e bebida

Como a cabeça do bispo
Tu comes a cabeça da dama
Vendo-te o "cavalo"
Empresto-te a torre
Mas quero saber que me ataca
Atropelo um peão
Juro que ele não morre
Baby eu sei que não sente
Liebschen ele nem trabalha
Não come não sente
Já não se lembra quem é...

E o luar é tão cândido
E eu e tu Ana tudo é pureza e limpeza
E era tudo tão claro
E agora é tudo tão vago
Tudo gente tão podre
E há uma assimetria
Com um toque de lobotomia

Ó miss Psicanálise - Que perfeita que és
E tão pequenina
Com umbigo e tudo - E até unhas nos pés
E tão pequenina
Que saúde que tens, da cabeça aos pés
(Como eu a invejo)...
Que perfeita que és da cabeça aos pés
E tão pequenina.

(do álbum Os Homens não se Querem Bonitos, de 1985)

Eu gostava da Rosa Lobato - de - Faria antes d'ela morrer

Fora aquele facilitismo grosseiro - armado em estruturalista de terceira com a cagança de chegar à estrutura - de que tudo o que mexe é revelador e se for bem vendido cumpre setecentas funções simbólicas, custa-me a crer que os grupos formados no feicebuque não sejam matéria digna de tratamento etnográfico (para o qual sou tão competente como a Judite de Sousa). Fica alguma recolha de campo, deixada com o entusiasmo de quem - as usual - perde tempo com merdas sem jeitinho nenhum:

- O mundo não acaba em 2012 porque tenho uma lata de ananases que expira em 2013.
- Onde está o papel pelo qual paguei 25 contos à Universidade de Coimbra?
- Eu tenho Facebook por pressão do Sócrates.
- Eu já mexi no urso da Natura.
- Eu distingo "comeste" de "comes-te" e outros que tais.
- I hate when people ask for extra paper in exams. WTF are you writing?!
- Já fiz xixi para fora.
- Te voy a dar 2 medallas: una por gilipoias y la otra por si la pierdes ;)
- I correct your bad grammar in my head while you're speaking.
- Quando toco à campainha e me perguntam quem é respondo sempre "sou eu!".
- Pessoas que fingem não ver certas pessoas e depois: "Ah, estás por aqui?".
- Virar a almofada ao contrário para teres o lado frio.
- Nós queremos a Joana Amaral Dias na Playboy.
- Eu digo FODA-SE! E sou feliz!
- Eu sei que não recebi SMS nenhuma mas espreito o telemóvel à mesma.
- Grupo das pessoas tão boazinhas que até dói.
- Si Judas estaba entre 12 amigos, tu que tienes 300 en el Facebook vas fino.
- Portugues@s (sic) contra a pedofilia na Hierarquia da Igreja Católica Romana (SIC).
- Pessoas que deixam a fatia do meio da torrada para o fim.
- Pessoas que não sentiram o sismo de 17 de Dezembro de 2009.
- Eu não como o pepino do McDonald's.

Adenda: Fiquei muito "lindo/a" na fotografia do Cartão do Cidadão.

Assassínios colaterais: um segredo mal guardado


Entre 2003 e 2009, 139 jornalistas foram mortos no Iraque. Estes dois estavam ao serviço da agência Reuters quando foram abatidos no meio da rua pelos helicópteros norte-americanos. O Pentágono sempre recusou mostrar as imagens que desmentem a sua versão do ataque que matou doze pessoas em Julho de 2007. A Wikileaks divulga-as agora, agradecendo aos militares que permitiram que a verdade fosse conhecida através desta fuga de informação.

Oh captain, my captain!


A Câmara Municipal de Loulé vai organizar uma "Exposição Aníbal Cavaco Silva". Faz bem. Comemora o centenário da República e tal. Numa Câmara Municipal com maioria do PSD, o tenta janela lembra, e bem, que ter uma exposição sobre a sua vida nas vésperas de se candidatar a mais um mandato como Presidente da República, não é para qualquer um. A única esperança é que, além de estar em exposição o seu fato de casamento, estejam também as suas conversas com Fernando Lima sobre segurança informática.

Porque lutam os estudantes?

Desde os anos sessenta, os movimentos estudantis constituíram-se como protagonistas importantes da crítica aos modelos sócio-económicos, culturais e políticos prevalecentes. Em Portugal tal como no resto do mundo, as bandeiras agitadas pelos estudantes articularam as questões ligadas à Universidade com problemáticas sociais mais amplas. Este ciclo de debates propõe-se a abordar as últimas quatro décadas, evidenciando os momentos de maior tensão contestatária nas Universidades. Ao mesmo tempo, procura-se equacionar os desafios e impasses que se colocam aos movimentos estudantis enquanto força social capaz de elaborar uma crítica ao presente existente.

Dia 7 de Abril, 4ª feira, Mini Auditório Salgado Zenha (Associação Académica de Coimbra)

18h00 - 40 anos de Lutas Estudantis
Miguel Cardina - Historiador
Alexandra Silva - Historiadora
Sandra Monteiro - Directora Le Monde Diplomatique
Comentário: Ana Drago - Deputada

21h30 - Impasses e Desafios do Movimento Estudantil
Ana Bastos - AEFCL
João Morgado - AEESEC
Manuel Afonso - NEFLUC/AAC
Fabian Figueiredo - NES/AAC
Comentário:
José Soeiro - Deputado

Organização:
CULTRA/Coimbra

Puxão de orelhas

Não é nada que espante. João César das Neves, já há muito que se dedicou a uma carreira de produção de textos que servem ora de combustível à fogueira facilmente inflamável dos mais ingénuos e sensíveis, ora de matéria-prima para uma noite bem passada a gozar com ele a uma mesa de café. De resto, toda a argumentação de JCN faz sentido desde que se parta dos mesmos pressupostos que ele. Mas o problema está mesmo aí.

"Mas o que agora temos é outra injustiça, a de tentar degradar toda uma classe respeitável", diz ele. Ora, ignorando eu com uma paternalista palmadinha nas costas a alusão que faz ao Centro de Estudos de Novas Religiões como produtor de um estudo sociológico sério e ignorando também a forma atabalhoada como, à força, mete o divórcio e a eutanásia ao barulho, não posso deixar passar esta, lamento. Não esperava a atribuição de uma natureza de respeitabilidade a uma qualquer classe que não viesse de jovens revolucionários de algibeira de quem já aqui falei. Ora, se já nestes, não lhes aturo a ingenuidade, a JCN, referindo-se ao clero, a coisa fica ainda mais difícil. Vá, dou-lhe a abébia de não me pôr a contradizê-lo quando considera o clero como classe mas considerá-lo como classe naturalmente respeitável é que já passa todos os limites. E digo-o com o à vontade de quem sabe que JCN não o diz por considerar que toda a gente é naturalmente respeitável. Bem sabemos que não é assim. Mas se o argumento é a adopção de comportamentos contra-natura, vou ali e já venho se o celibato não se encaixa na perfeição nesta categoria.

E porque é Páscoa...

... e também o Minoria quer enviar uma mensagem Pascal, aqui fica aquilo que eu considero uma boa notícia (excelente será se a sentença me agradar).

Então, o erudito e militante activista do movimento "contra todo e qualquer tipo de direitos humanos que envolvam mulheres e não heterossexuais" João César das Neves vai responder em julgamento por difamação num processo movido pela ex-dirigente da Opus Gay Anabela Rocha. Em causa os inacreditáveis artigos de opinião do economista.

Segundo um comunicado da Opus Gay, a juíza do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa que pronunciou João César das Neves considerou que o professor da Universidade Católica, nos textos publicados no "Diário de Notícias", "ultrapassa largamente os meros artigos de opinião".

"O arguido não se limitou a dizer, por exemplo, que não concorda com as práticas homossexuais. O arguido equivale os actos homossexuais ao crime de pedofilia, refere que os recentes casos de pedofilia são todos, mesmo todos, homossexuais, equipara os homossexuais com drogados e considera-os doentes", refere o comunicado, citando o despacho da juíza.

Por último, a juíza lembra que o economista "insinua que apenas para se ser politicamente correcto é que se chama de pedofilia à "pedofilia", pois o seu verdadeiro nome é homossexualidade".

No despacho de pronúncia, com data de 2 de Fevereiro, a juíza refere que, ao ter feito tal associação entre os conceitos de homossexualidade e pedofilia (sendo esta última uma actividade punida como crime e de acentuado desvalor social), que o professor universitário "só pode ter tido como objectivo denegrir a imagem dos homossexuais".

Digam lá se isto não é melhor do que amêndoas?

Um post «forçado»

Eu dá-me a ideia de que este pequeno trecho do filme Gainsbourg (vie héroïque) - por que aguardo impacientemente - traduz uma concepção estereotipada da mulher bonita submissa ao talento criativo do homem feio, o que reproduz um imaginário e uma narrativa patriarcal sobre a estética e, lá está, o papel da mulher na sociedade, confinando-a a um conjunto de tarefas e funções socialmente destituídas de poder e prestígio, isto assim para simplificar porque estas questões requerem um debate alargado a toda à sociedade, bem como a implementação de um conjunto medidas paritárias e inclusivas que visem corrigir assim à maluca (esta é para as quotas) uma série de desigualdades e eu p'ra mim ser de esquerda é lutar contra as desigualdades em geral e sempre que se realizem iniciativas encorajar a participação dizendo traz um amigo também.

(É isso um outro problema que me tem tirado o sono, que é o facto de os jovens hojendia estarem divorciados da política, mas essa questão merece um debate alargado a toda a sociedade, bem como a implementação de um conjunto de medidas mobilizadoras que visem a participação activa e informada dos jovens na vida política, tanto à escala local como à escala global e de Richter.)

Ora como esta perspectiva tende a tocar as chamadas políticas de visibilidade, achei por bem deixar este pequeno passo do Gainsbourg (abaixo, a negrito), não sem antes lhe ensaiar a crítica feminista, presumindo-o parte fraca: ora ele não diz ser invisível, antes afirma ter o poder de ser invisível, o que sinaliza uma capacidade de escolha sobre si mesmo: gozando de autonomia nessa escolha temos o problema da visibilidade resolvido porque esta resulta - até ver - da autodeterminação objectiva e subjectiva do artista, não é? Não é por acaso que, seja ela errada ou viciada, eu sou pró-escolha.

I'm the boy that can enjoy invisibility
Le garçon qui a le don d'invisibilité

Mas vamos ao que interessa: esta Jane Birkin não parece a Carla Bruni?

O Estado também serve para isto

Eu não sei dos princípios do meu amigo Diogo, mas tenho umas coisinhas a dizer. Em primeiro lugar - e sabe Deus o que me custa ceder às teses de João Pereira Coutinho quando ele joga em casa - há uma campanha anticlerical alimentada tanto intuitiva como cerebralmente por diferentes interesses políticos e ancorada em eixos retóricos bem conhecidos: a relação causal entre celibato e pedofilia (Sena Martins comprou e vende agora a ideia baratinha), o conservadorismo moral e sexual como causa maior da proliferação da SIDA nos países pobres (perguntem aos alterglobalistas e aos justiceiros pós-coloniais, que eles têm provas) e causa maior da gravidez na adolescência nos países ricos (perguntem a alguns peritos em saúde sexual e reprodutiva - têm sempre este bónus quando falha o argumento às respectivas causas e lutas), o colonialismo disfarçado das missões "humanitárias" (aspinhas, né?) em África e o oportunismo social e clientelar das IPSS da Santa Casa. E há mais, basta sondar os populares sobre a riqueza e o património da Igreja que eles põem tudo em pratos limpos.

Dito isto (e sublinhe-se que isto não é de todo desprovido de razão), vem o segundo lugar: o Estado - que na minha terra é garante material e simbólico de direitos, liberdades e garantias - é um dos grandes responsáveis pelos maus tratos e crimes sexuais cometidos no interior da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR). Ensinam os manuais que não se deixam crianças particularmente vulneráveis e desprotegidas (e as outras também) sob a tutela de uma organização privada (sim, privada) sem controlo e acompanhamento absolutamente nenhum. Ponto. Seja a ICAR seja a Casa do Artista (com os velhos é a mesma brincadeira). Não sei onde andou o Estado este tempo todo, mas se a ICAR pede desculpa e lamenta a cobertura que anos a fio deu a homicídios sinistros da intimidade de seres humanos - e portanto há muita investigação criminal a fazer, - dá-me ideia de que há por aqui mais mãos sujas (eventualmente laicas e republicanas): sujas por pensamentos e palavras, actos e omissões. Há que tratar disso, não? E não me chega uma Catarina Pestana. Ou Catalina.

Por uma questão de princípio

Não escreverei um post sobre os casos de pedofilia na Igreja Católica.

Pré-Publicação

Está para breve a publicação do novo livro de David Harvey. Para @s interessad@s é possível aceder a um texto que antecipa o fio de pensamento desta obra. Está disponível aqui. Uma leitura herética fica sempre bem nesta época de festividades religiosas.

A malta estava a reinar!

"Estágio não remunerados serão proibidos"

Como é óbvio, a notícia que anuncia o fim da escravatura da construção do CV só poderia surgir no dia 1 de Abril. Agora, como é ainda mais óbvio, não vai haver um único empresário que engula esta peta.

O pavor da criminalidade


O crime é, por definição, difícil de contabilizar. É que os criminosos têm o irritante hábito de fazer tudo por tudo para que não se saiba dos crimes que cometem. É por isso que fazer alarido quando aumentam os números da criminalidade (que podem traduzir um aumento efectivo da criminalidade ou um aumento de eficiência no seu combate) e fazer um alarido quando diminuem os números da criminalidade é o exercício cujo paralelo de absurdo só poderia ser encontrado se o Medina Carreira se pusesse a falar do novo disco dos Black Rebel Motorcycle Club.

Ainda assim, continua a dar para dizer coisas do género "Atrás dos números gerais da criminalidade, traduzidos em centenas ou milhares de crimes e nas respectivas percentagens, há um mundo real marcado por um cenário assustador e vivido em cada dia pelos portugueses". Nem mais! Eu, por mim, vou hoje dormir com a porta entreaberta e a luz da casa de banho ligada. Homem prevenido...

A boateira persistente

António Chora responde ao processo de intenções que lhe é reiteradamente dirigido. Como é insinuado aqui e noutros blogues da chamada blogosfera comunista, ele não participou na lista B para a Comissão de Trabalhadores, ganhadora em 1994, e patrocinada pela Administração. Era candidato pela Lista A, afecta à CGTP, onde sempre esteve. Entretanto as suas listas para a CT têm ganho democraticamente às dinamizadas pelos militantes comunistas. E só não foi reconduzido para o Conselho Nacional da CGTP pois a «tendência comunista» não considerou relevante ter no orgão máximo da Central Sindical o principal dirigente da Comissão de Trabalhadores de uma das empresas mais importantes do país. Sem argumentos, agarram-se ao jantar do Manuel Pinho, como se essa argolada pudesse anular todo o restante percurso do Chora. Lamentável.